Pensar Piauí

Neymar não tem o direito de passar pano para um estuprador

Enquanto as mulheres se dividem a partir de suas opressões, os homens se unem em torno de seus privilégios.

Foto: ReproduçãoNeymar e Daniel Alves
Neymar e Daniel Alves

 

Por Nathalí Macedo, no DCM 

O ex-jogador brasileiro Daniel Alves foi condenado nesta semana por agressão sexual na Espanha.

Considerado, pois, um estuprador condenado, deve deixar a prisão dentro de quatro anos e meio, mas não no que depender do seu amigo Neymar.

O “menino Ney” pagou 800 mil reais (pra ele, um troco, mas isso faz pouca ou nenhuma diferença) para reduzir a pena do amigo, protegendo-o das consequências de suas próprias atitudes sórdidas e criminosas.

E engana-se quem pensa que isso é uma exceção.

Homens se protegem desde sempre, como se estivessem comprometidos e pactuados com uma espécie de clube do bolinha para adultos imaturos e/ou de capacidade cognitiva reduzida.

O mais absurdo nessa história não é o fato de Neymar ter passado pano para um estuprador (mas, afinal, o que esperar dele?), nem o fato de não fazer questão de esconder isso – naturalizando um crime execrável.

A grande questão é, na verdade, a contradição a uma resposta masculina padrão diante de qualquer acusação de machismo: “Eu tenho mãe, tenho irmãs, tenho filhas”.

Justificam-se como se o fato de conviverem com mulheres – muitas delas abusadas de diversas formas – os tornassem imunes ao machismo.

Pois bem, Neymar tem uma filha. Haveria quem dissesse: “E se fosse com ela?”

A verdade é que esse apelo à moral de um estuprador (e daqueles que o protegem) é apenas a “sororidade masculina” entrando em ação.

Não há uma palavra sequer para definir a proteção que os homens oferecem uns aos outros, mesmo nos casos mais sórdidos e aterradores.

Mulheres continuam sendo estupradas – dentro e fora de suas casas – porque há pessoas (e muitas pessoas, e a maioria, homens) que naturalizam um dos crimes mais violentos e doentis que existe: gente como Neymar, que, para além de ajudar um estuprador, naturaliza, enquanto pessoa pública, o estupro.

Um jogador famoso e com fandom infantil não tem o direito de passar pano publicamente para uma agressão sexual, e é triste que haja ainda comportamentos tão absurdos como proteger amigos estupradores, mas, infelizmente, não é o primeiro e não será o último.

A brotheragem masculina se mantém intacta e mais forte com o passar do tempo, porque, ao fim e ao cabo, enquanto as mulheres se dividem a partir de suas opressões, os homens se unem em torno de seus privilégios.

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