Política

Lula fala ou não fala em rede nacional sobre o RS ?

'Sendo o grande líder que é, o presidente da República vai transmitir confiança e esperança à Nação', escreve a colunista Denise Assis


Foto: Ricardo StuckedLula
Lula

Por Denise Assis, jornalista, no 247 

Nesta sexta-feira, a notícia que chegou ao Brasil 247 foi a de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está considerando a possibilidade de fazer um pronunciamento em rede nacional. Até então, o comentário que mais se ouvia nas redes, vindo do campo progressista era um verdadeiro clamor para que Lula fizesse uso da prerrogativa.

O pronunciamento em rede nacional pelo Presidente da República é um momento importante e solene, no qual o chefe de Estado se dirige a toda a nação por meio de rádio e televisão. Geralmente, esses pronunciamentos ocorrem em ocasiões relevantes, como Ano Novo, datas comemorativas, momentos de crise ou situações excepcionais. O que mais seria uma situação excepcional, do que a que estamos vivenciando nesse momento? Sua fala estaria, portanto, dentro das exigências.

No entorno do presidente, as dúvidas são muitas e fora também. No meio político, o cuidado para não ferir susceptibilidades, por exemplo, no que diz respeito ao governador do Estado do Rio Grande do Sul, no olho do furacão, tendo que tomar providências bem mais agudas do que ficar envolto em querelas políticas. Lula sabe o que é estar no olho do furacão e avalia esse aspecto, juntamente com os seus ministros. Também evita, como tem lembrado a colega Tereza Cruvinel, ex-diretora-presidente da EBC, que os empresários do ramo das Comunicações não gostam desse expediente, qual seja: “pronunciamentos oficiais”, pois roubam minutos preciosos dos anunciantes. (Pelo amor de Deus! Será que não estariam dispostos a ceder nem em momentos trágicos???). E, longe dele – essa é uma preocupação real – ser acusado de uso político da situação. Não é disso que se trata.

Mas isso não é tudo. Surgem entre os analistas políticos questionamentos do tipo: se pronunciar para falar o quê? Não faltam assuntos. E a hora é esta.

Desde o primeiro minuto da tragédia Lula foi atacado por uma onda de fake News, e um apagamento do seu imediato e pronto atendimento ao governador e às vítimas. O primeiro foi o próprio Eduardo Leite, que de forma precipitada comentou que Lula só faria sobrevoos. Com luva de pelica, Lula devolveu o açodamento do governador, desembarcando no dia seguinte ao início da catástrofe, acompanhado de todos os poderes da República e colocou sobre a sua mesa os serviços e os instrumentos para que fossem agilizados os socorros.

Estiveram em Porto Alegre: o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal de Contas da União, o presidente da Câmara, o presidente do Senado e um time dos principais ministros e forças que pudessem desembaraçar a desburocratização e a chegada de recursos e serviços.

A mídia, sempre ela, deslocou o seu time para a cobertura, dando destaque para o drama humano e dos animais em perigo – corretamente -, mas atribuiu à onda de socorro e solidariedade os avanços no salvamento e na chegada de medicamentos e alimentos para os atingidos. Apenas hoje (11/05), tantos dias depois, as equipes começaram a focalizar o que fazem os militares do Exército – exibindo imagens do lançamento de cargas com socorro, pelos helicópteros e pelos aviões da FAB -, e resolveram ir ver o que faz um navio gigantesco, da Marinha, ancorado em Porto Alegre.

Para compensar essa onda de desinformação, o presidente Lula, que desde o início da tragédia centrou foco em acudir o estado e despender esforços para salvar vidas e dar condições aos prefeitos (mesmo os malcriados), de gerir do melhor modo, mesmo na precariedade, os seus municípios, deveria dirigir-se à Nação.

Na correria para tentar conter os danos e amenizar sofrimentos, o presidente não deve ter se dado conta de que, a solidariedade surgida de Norte a Sul, de Leste a Oeste do país, que ele elogiou e reconheceu ser o melhor dos brasileiros, seja fruto de uma dor que é de todos. Portanto, Lula, que fala ao povo como ninguém, estaria acalentando a alma de todos que choram diante das imagens impactantes e comovente vistas dia e noite na TV.

O Brasil está sentindo as dores da tragédia, e uma palavra de consolo aos gaúchos que ele não pôde abraçar um por um, e a cada brasileiro sensibilizado pela catástrofe, seria bem acolhida. Ao mesmo tempo, haveria a oportunidade de expor à sociedade, para onde estão sendo direcionados os recursos destinados à tragédia. Elencar as importantes providências tomadas com rapidez e eficiência, até agora. Dirigir-se como o grande líder que é, (isso até a oposição menos doente admite), transmitindo confiança e esperança à Nação.

E, por fim, Lula poderia, como sempre fez, apontar caminhos: contactar a presidente do Banco dos BRICS, a brasileira “mineirogaúcha”, Dilma Rousseff, cujo banco que dirige tem em sua missão “fornecer financiamento para projetos de infraestrutura”, montar um gabinete de crise para se debruçar imediatamente sobre perspectivas de novas tecnologias capazes de dar conta da realocação dos desabrigados. Em segurança, em “cidades sustentáveis” e, por fim, falar o que tem dito em alguns eventos, mas desta feita, oficialmente: “não faltarão recursos para a reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul”.

O presidente Lula deve e tem o direito de usar a cadeia de emissoras de rádio e TV para se colocar bem pertinho do seu povo. E isso ele faz como ninguém.

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