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Kathlen: "a bala não é perdida se sempre encontra os mesmos corpos"

Advogado, jornalista e ex-BBB protestam e comentam assassinato de mais uma vida negra no Brasil

Foto: DivulgaçãoKathlen Romeu
Kathlen Romeu

DCM - Nessa quarta-feira (09), a jornalista Bianca Santana foi às redes sociais divulgar sua última nota como colunista do UOL.

“A manchete do UOL sobre a execução de Kathlen Romeu foi a gota que faltava para eu encerrar minha coluna. Não se trata de desconhecimento do genocídio negro. Mas de escolha. Cumplicidade. Coautoria”, escreveu ela no Twitter.

A jovem negra, Kathlen Romeu foi morta grávida ontem durante uma operação policial no Lins, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

“Grávida morre após ser baleada durante troca de tiros em comunidade no RJ”. Essa foi a manchete do UOL.

Bianca ficou indignada pela cobertura noticiar a execução “como fato isolado”.

“É essencial contextualizar execuções de pessoas negras”, escreveu ela na coluna com o titulo: “Passar pano para o genocídio negro: não em meu nome”.

Por sua vez, Gil do Vigor, ex-BBB, fez uma publicação de condolências à família da jovem Kathlen Romeu, de 24 anos, que morreu depois de ter sido baleada, nesta terça-feira (08), em um dos acessos à comunidade Lins do Vasconcelos, na Zona Norte.

Ele lembra de ter falado muito a respeito de sua “pesquisa sobre repressão no mercado de drogas, mas é sempre muito triste. Porque ela destrói famílias e vidas ainda em construção. A bala não é perdida se sempre encontra os mesmos corpos”, lamentou.

“Que Deus conforte a família da Kathlen. Morta em uma operação policial. Falei tanto sobre minha pesquisa sobre repressão no mercado de drogas, mas é sempre muito triste. Pq ela destrói famílias e vidas ainda em construção. A bala não é perdida se sempre encontra os mesmos corpos.”

Foto: twitterGil do Vigor

Em sua coluna na Folha, Thiago Amparo afirmou que Kathlen Romeu “não foi morta em confronto, porque morticínio não é confronto, é barbárie”.

“Parem as máquinas, pois Kathlen Romeu é assassinada. Assim mesmo: no tempo presente. Eu me recuso a escrever sobre mortes negras no passado, porque vivemos num grande presente a se repetir e repetir; no qual o futuro é uma obra afrofuturista. Ser negro no Brasil é viver uma constante dissonância cognitiva: nosso corpo está aqui e agora, mas contra esse corpo é aplicada, e reaplicada, a mesma tortura há séculos”.

Ele afirma que ela não foi “alvo de bala perdida”, pois “a bala é sempre certeira contra os mesmos endereços e a mesma cor”.

“O que está em curso no RJ é, tecnicamente, genocídio: destruição intencional de um grupo étnico-racial. E quero que vá às favas quem ache que isso seja calunioso, posto que falso não é: governo e polícias do Rio de Janeiro têm as mãos sujas do sangue que derramam. Qual democracia sobrevive após ser esmagada pela queda do corpo que nunca pesa? Por que coisificamos mortes negras em mais um post preto e as transformamos em códigos de desconto?”, diz o advogado.

Para ele, “o luto há de virar luta” e “as instituições, que permitem o genocídio negro, implodirão”:

“Toda morte é política, porque fomos nós, a pólis, que produzimos o governo da morte. Que o incendiemos. Parem a grande máquina do mundo, pois Kathlen não sorri mais”, completa.

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