Cultura

João Gomes não tem coragem de falar nada

Veja análise da entrevista concedida à Folha de SP


Foto: DivulgaçãoJoão Gomes e Luis Felipe Miguel
João Gomes e Luis Felipe Miguel

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook 

Sei que serei criticado por confessar que, até ainda há pouco, "João Gomes" era apenas um mítico perneta potencial, da resposta que minha mãe dava cada vez que um filho dizia "tô com fome": "come a perna do João Gome".

Agora sei que ele é "o cantor de pisadinha que é febre no Brasil", que ganha página e meia de entrevista na Folha. Mas, como não sabia até hoje quem ele era e como não estou familiarizado com sua obra, certamente sou um elitista incorrigível.

Não ter ideia de quem foram Camargo Guarnieri ou Nelson Sargento está bem. O importante é aceitar o presentismo e o domínio da indústria cultural.

Mas o que me interessa é a entrevista do rapaz. Tendo puxado um coro contra Bolsonaro no Rock in Rio, ele logo pediu desculpas: "Não apoio qualquer bandeira, mas fui irresponsável". Na entrevista, reforça: "Foi uma decisão muito errada para quem não tem nenhum lado".

É o elogio da anulação da crítica. Não ter bandeira, não ter lado, são as garantias de que será um produto amorfo, consumível sem tensões por qualquer um.

A entrevista prossegue. A equipe de João Gomes "não o deixar falar sua opinião" sobre Bolsonaro ou Lula.

Ao final, triunfalista, ele diz que o sucesso vem porque "a gente canta o que a outra pessoa não tem coragem de falar". Nem percebe como é constrangedoramente contraditório: ele escancarou que não tem coragem de falar nada.

No futuro próximo, João Gomes será dispensável. As ferramentas de IA vão compor, tocar, cantar, colocar hologramas no palco. Vão dar entrevistas também e vão falar as mesmas platitudes. Talvez seja melhor. Pelo menos, não vamos sentir decepção com a humanidade.

 

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