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Governo nada faz diante do aumento da carne

A grande pergunta se refere ao caráter isolado ou não do comportamento da carne bovina no mercado, pois o dólar impacta combustíveis, trigo, etc.

Foto: google imagensEnquanto Bolsonaro cruza os braços, preço da carne dispara
Enquanto Bolsonaro cruza os braços, preço da carne dispara

A elevação do preço da carne bovina afeta o consumo das famílias brasileiras, obrigadas a reduzir seus gastos e optar por alternativas como o frango e a carne suína. Enquanto o setor pecuarista comemora a alta, o consumidor se vê diante de mais um fator de redução de sua capacidade de consumo, já que a demanda interna é maior do que a oferta. Como se sabe, os produtores estão preferencialmente vendendo a carne bovina para o mercado chinês, que vive uma crise na sua produção de carne suína.

Sem os suínos em quantidade suficiente para abastecer o mercado interno, a China optou pelos bovinos importados dos três maiores produtores mundiais: o Brasil, a Austrália e os EUA. O fato contribuiu para a multiplicação das exportações brasileiras da carne bovina não apenas para os chineses, mas também para países como Rússia e Emirados Árabes. Na visão de alguns economistas e do agronegócio, o preço da carne bovina no País estava mesmo “deprimida” e agora chega a um novo patamar, que, pelo visto, veio para ficar.

A própria ministra da Agricultura, Teresa Cristina, conhecida como a Musa do Veneno – por liberar a comercialização de centenas de tipos de agrotóxicos no mercado nacional –, admitiu que a alta veio para ficar. É claro, há dois fatores econômicos que precisam ser considerados e se referem ao princípio no qual o preço de qualquer produto disponível sobe quando a demanda é maior do que a oferta. Com menos carne nas prateleiras, mais caro o item tende a ficar. É uma lei de mercado, portanto. O segundo fator é o especulativo.

Movimento especulativo

Com a alta do preço, não só os produtores, como também os distribuidores e os mercados atacadistas e varejistas – onde chega o valor finalmente repassado à população, nos frigoríficos e supermercados –, passam a visar maximizar seus lucros, aproveitando o momento. Isso gera um movimento especulativo que pressiona ainda mais o valor de revenda, e explica, em parte, porque peças como o contrafilé registraram alta acima de 50%, em menos de três meses. Os dados são da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Outro problema é que essa alta é também explicada pela desvalorização do real em relação ao dólar, já que a arroba do boi gordo é uma commodity avaliada em moeda norte-americana. Quando as exportações de uma commodity crescem, se elevam automaticamente seus valores internacionais, quando não regulados por outros determinantes. Para o consumidor brasileiro, é a tempestade perfeita, já que, paralelamente à valorização da commodity, o próprio dólar dispara, pressionando ainda mais para cima os preços finais para o consumidor.

A grande pergunta se refere ao caráter isolado ou não do comportamento da carne bovina no mercado. É provável que não seja algo pontual, pois se o dólar sobe, impacta nos preços dos combustíveis, trigo, importados, etc., gerando mais pressão inflacionária, o que deve se refletir daqui a alguns meses ou algumas semanas. Enfim, a conjuntura é massacrante e deve reduzir ainda mais o poder aquisitivo e, efetivamente, o consumo das famílias, como se já não bastasse a deterioração do quadro social brasileiro.

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