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É preciso estar atento e forte diante do nazismo

Não é tolerável que o viés antidemocrático, portanto, totalitário, faça a apologia do nazismo e holocausto, que assassinou seis milhões de judeus

Foto: google imagensO paralelo de Alvim e Goebbels no governo Bolsonaro
O paralelo de Alvim e Goebbels no governo Bolsonaro

O vídeo nazista do então secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro horas depois de sua divulgação, não foi um deslize, como já foi observado amplamente por setores da imprensa, política, intelectualidade e das artes. O vídeo tem uma precisão absoluta no que diz respeito a seu formato e conteúdo. É claro que foi intencionalmente realizado com a estética do ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, na Alemanha Nazista, com tom persuasivo, incisivo e uma ópera de Richard Wagner ao fundo.

Todos os elementos estéticos e portanto simbólicos do pronunciamento do ex-secretário, além das paráfrases do discurso de Goebbels, foram meticulosamente colocados não para remeter, apostando na ignorância da população, mas incutir, de forma neurolinguística, a ideia de uma arte supremacista, “heróica”. Segundo Alvim, o estado brasileiro, sob a égide de Bolsonaro, irá promover uma guerra cultural, para impor a ideologia de uma cultura supostamente voltada à maioria cristã do povo brasileiro. E isso não vai mudar com a queda.

Alvim não caiu porque fez um discurso nazista, inserido num formato de estética correspondente, sobre a ideia de uma arte contrária à diversidade da cultura brasileira, um dos pilares de nossa riqueza cultural reverenciada no mundo inteiro. Como já é do amplo conhecimento, o ex-secretário foi defenestrado porque causou um dano político gigantesco ao projeto de poder bolsonarista – e se fosse mantido, tal dano teria um efeito progressivo e simultaneamente cumulativo, como um câncer que vai se agravando com o passar das horas.

Aprovação de Bolsonaro

Ao abraçar o nazismo, mesmo manifestando-o de forma subliminar, Roberto Alvim não o fez por conta própria, evidente. Ele contou com a ciência e aprovação de Bolsonaro, tanto que a política do governo será mantida, exatamente como o ex-secretário a anunciou. É fruto, em grande medida, do imaginário do provável astrólogo Olavo de Carvalho, o grande ideólogo obscurantista desse regime. Com Regina Duarte ou não, vai continuar o combate ao modernismo, iluminismo e diversidade característicos da tradição da cultura brasileira.

Essa é a expectativa. E o pior, o processo vai ser dar através do aparelhamento do estado brasileiro, com recursos públicos oriundos da contribuição tributária do povo, que obviamente é plural, diverso, multiétnico, livre, e sua cultura é a manifestação de sua existência. Portanto, aparelhar a política cultural, de forma contrária aos interesses da população, em sua completude, e seus respectivos agentes culturais, em todas as áreas das artes, a serviço de ideologias fundamentalistas, vai de encontro à Constituição Federal.

Assim, esse aparelhamento pode ser encarado como mais um crime de responsabilidade, um dos numerosos já cometidos pelo presidente e seus ministros, e isso deve ser levado em consideração pelas forças democráticas. Não é tolerável que o viés antidemocrático, portanto, totalitário, faça a apologia do nazismo e holocausto, que assassinou seis milhões de judeus e outros 60 milhões pelo mundo afora, durante a Segunda Guerra Mundial. A cultura pode estar sendo usada para legitimar tudo isso. É preciso estar atento e forte.

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