Cultura

Pedro Cardoso apoia condenação de Leo Lins e critica stand-up

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Reprodução Pedro Cardoso apoia condenação de Leo Lins e critica stand-up
Pedro Cardoso e Léo Lins

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Bom dia. Sobre Leo Lins, sugiro que leiam, no site Pretessências, a opinião de Aquiles Argolo. As palavras de Argolo, como sempre, dão-nos a dimensão da potência da violência racista no brasil; e a proporcional reação que, ainda bem, lhe é oposta. Agora, o meu ponto: Eu tenho dito, faz muito tempo, que o tipo de teatro a que chamam “stand up” se tornou um ninho no brasil onde se desenvolveu o ovo da serpente do fascismo. Não todos, mas tantos comediantes de “stand up” se permitiram as mal-educações fascistas que se pode dizer de uma generalidade com excessões. A razão pela qual o gênero “stand up” se prestou a ser tal incubadora se deve a nele o comediante, aparentemente, poder prescindir de representar um personagem e falar, com pretensa graça, na sua primeira pessoa, mantendo-se, entretanto, protegido pois tudo seria ficção. Comediantes com mensagens fascistas valeram-se do “stand up” e disfarçaram de entretenimento teatral cômico o que era discurso político agressivo. Violentaram o teatro. Pessoas de lados oposto fizeram o mesmo. Acirra-se assim a violência e a conversa pacífica é destruída, atendendo ao interesse dos autoritários. E o teatro, lugar da provocação pela dialética, é reduzido a palanque de agressores, originais ou reativos. Teatro sem personagem é uma doença do autoritarismo. O público hoje já tem dificuldade de rir de um personagem agressivo por receio de estar aprovando, com seu riso, o que seria a agressividade da pessoa que o representa. Confusão provocada por comediantes irresponsáveis. Não há crime em ato ficcional narrativo. Personagens são fantasma imateriais. Mas quando o autor toma o lugar do personagem, o ato ficcional se torna disfarce onde se esconde um ato real. Questão de imensa sutileza. Criminalizaremos os versos misóginos do Funk? Nunca se quem os estiver dizendo for o personagem que canta. Mas devemos criminalizar a piada racista, ou a misoginia, quando o ato já não for ficcional, ainda que disfarçado de o ser. No mais, o que diz Argolo sobre o pacto macabro da branquitude, é a mais absoluta verdade. Insisto no meu ponto: Só o personagem nos salva de nós mesmos. E enquanto isso, Carla foge.

Bom dia. Insisto em recomendar que leiam o que Argolo, no site Pretessências, diz sobre a condenação de Léo. Sugiro também texto de Ruth Aquino, em O Globo, sobre o mesmo. E sugiro que, diante de um tema dessa complexidade, a gente não se afobe em se ancorar numa certeza imobilizada; que a gente suporte deixar uma fresta para uma possível dúvida. Eu admiro, a cada dia mais, a lucidez de Argolo, sua boa argumentação, sua inflexível honestidade intelectual. Quando Argolo diz da empatia classista dos comediantes da “branquitude” brasileira, que move a defesa de uma suposta “liberdade de expressão” irrestrita, eu me sinto profundamente de acordo com ele. Quando Ruth Aquino se assombra ao descobrir Léo Lins feito “ícone da liberdade de expressão” e lhe lista as agressividades ditas em dito show de humor dele, mas também se preocupa com o fantasma da censura, eu compartilho a mesma inquietação. E penso: estar sobre um palco não produz inevitavelmente um ato ficcional. Um palco de teatro pode ser usado como um mero palanque político; e um ato real tomar a aparência de ato ficcional para, na pretensa ficção, proteger o comediante do crime que, por ventura, cometa. Mas quem dirá a diferença entre um ato ficcional e um ato real? Quem dirá quando um ator, ao dar à luz um personagem agressivo, estará denunciando a agressividade e não a enaltecendo? Essa distinção pode ser evidente, como diz Argolo, mas pode ser imperceptível para muitos. Um mundo confuso é o interesse do fascismo. Jair Messias tentou um golpe de estado e se diz estar defendendo a democracia e a “liberdade de expressão”. E milhões de pessoas, a despeito das evidencias em contrário, acreditam nele. São as mesmas pessoas que não sabem distinguir quando um crime, disfarçado de ato ficcional recreativo , é cometido de quando um ator encena o crime cometido por um personagem. Neste mundo em que as redes antissociais deram a cada pessoa a oportunidade de fazer um personagem de si mesmo, no qual atores profissionais representam a si mesmos em seus perfis pessoais, no qual a ficção se simula realidade nos “reality shows”… neste mundo caótico, um proto-ditador consegue convencer no papel de defensor da liberdade.

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