Pensar Piauí

E agora doutor(a)?

Pedidos de desculpas não reparam tamanho desvios éticos

Foto: O PovoMário Mamede
Mário Mamede

 

Por Mário Mamede, médico, no O Povo 

“O velho mundo agoniza, o novo mundo tardo a nascer, e, nesse claro-escuro- irrompem os monstros”. Antonio Gramsi.

O exercício da medicina exige de nós o mais absoluto respeito a vida e a dignidade humana, orientados pelo principio ético do Juramento Hipocrático – curar quando possível, aliviar quando necessário, consolidar sempre. Por isso, na leitura de “Ravensbruk”- a historia do campo de concentração nazista para mulheres- foi um impacto saber que o percentual de médicos alemães que se alistaram na SS foi o maior dentre qualquer outra profissão. Ao me aprofundar na leitura, invadiu-me uma profunda angustia diante dos relatos das experiencias medicas nas prisioneiras judias.

Agora, em plena “normalidade democrática”, nos deparamos com denuncias envolvendo crimes diversos e com fios de conexão ao esquema bolsonarista. Corrupção na compra de vacinas, fraudes licitatórias, gabinete de saúde paralelo, distorção conceitual do “tratamento precoce” e da autonomia medica para justificar abordagens cientificamente desacreditadas e com risco de complicações graves para os pacientes. Mais grave, entretanto, é o presidente ter afirmado na Assembleia Geral da ONU: “desde o inicio da epidemia apoiamos a autonomia do médico em busca do tratamento precoce seguindo orientação do nosso Conselho Federal de Medicina “. 

Diante das denúncias envolvendo a empresa Prevent Senior, com experiências medicamentosas em seres humanos sem comunicado a nenhum comitê cientifico e sem conhecimento dos pacientes e familiares, além de praticas que se enquadram como ortanásia, como nos médicos nos posicionaremos? Aceitaremos silentes essas experiencias como aconteceu na Alemanha nazista?

Pedidos de desculpas não reparam tamanho desvios éticos. Aconteceu uma irreparável perda de credibilidade, de legitimidade e não há mais sustentação moral para a permanência da atual diretoria do Conselho Federal de Medicina.
Aos colegas que continuam apoiando esse presidente genocida, reflitam sobre suas atitudes. Lembrem-se do sofrimento que esse sociopata tem causado ao nosso povo.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS