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“Desculpem, se eu chorar”, sobre bordados de Nazária

“Desculpem, se eu chorar”, sobre bordados de Nazária

"Desculpem, se eu chorar". É assim que já com lágrimas nos olhos, o estilista José Feitosa começa a falar da trajetória das bordadeiras de Nazária, município localizado a 20 quilômetros ao sul de Teresina. O relato envolve muita emoção de quem viveu e vive a mesma história, lado a lado de mulheres que coexistem com as mais diversas desigualdades, tanto econômicas quanto sociais.
“Esse grupo sobrevive com muitas dificuldades nessa cidade emancipada de Teresina, mas que ainda não dispõe de infraestrutura mínima de funcionamento.
Além disso, aqui é muito grande a incidência da violência doméstica contra a mulher, além da escassez de oportunidade de obtenção de renda”, explana o estilista que há dois anos deixou a vida planejada que tinha na capital para morar em Nazária, depois de se apaixonar pelo trabalho das mulheres bordadeiras.
Feitosa não tem como conter a emoção e diz que naquela localidade encontrou um novo sentido tanto para o seu trabalho de estilista quanto como cidadão que luta para transformar a realidade na qual está inserido.
Da dedicação de pessoas como Feitosa, representantes da comunidade, do poder público municipal, representações religiosas e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae no Piauí nasceu o projeto “A Grota: Moda COMpaixão”, que tem como protagonista a Associação das Bordadeiras de Nazária.
Constituída há três anos, a entidade congrega 25 mulheres, mas as ações que são desenvolvidas na comunidade, a exemplo de diversas capacitações, envolvem mais de 60 pessoas.
Os bordados das mulheres de Nazária tiveram amplo reconhecimento no âmbito do Projeto do Sebrae no Piauí denominado Casa Piauí Design. Na última edição, ocorrida no ano passado, a coleção da Grota foi totalmente comercializada num único dia. As roupas bordadas já chamam a atenção de diversos formadores de opinião, os quais adquirem as peças e fazem a famosa propaganda boca a boca, dando mais visibilidade ao trabalho daquele grupo. “Temos os nossos anjos que nos ajudam nos momentos de dificuldade”, garante José Feitosa.
CAPACITAÇÃO EMPREENDEDORA
A técnica do Sebrae no Piauí, Rosa de Viterbo Cunha, explica que as ações de apoio às bordadeiras de Nazária envolvem capacitações profissionalizantes – que incluem técnicas de bordados especiais, modelagem, corte e design – e também preparação para as atividades associativas e empreendedoras.
“Tivemos a oportunidade de apresentar à comunidade as mais diversas capacitações no segmento do associativismo, planejamento empresarial e orientação para o desenvolvimento de atividades empreendedoras”, enumera.
Rosa analisa que o grupo é bastante receptivo e pode desencadear um ciclo de desenvolvimento no entorno onde atua, possibilitando que mais integrantes da comunidade possam se beneficiar e também participar desse processo de implementar novas oportunidades de negócios.
“O grupo é muito unido, entusiasmado e empreendedor por isso tem amplas chances de a cada dia se firmar na produção de bordados de qualidade, abrindo fronteiras cada vez mais desafiadoras, a exemplo da participação vitoriosa e destacada no nosso projeto Casa Piauí Design”, conclui.
FUNDAÇÃO AMERICANA PODERÁ APOIAR BORDADEIRAS
A Associação das Bordadeiras de Nazária aguarda o resultado de uma seleção de projeto por parte de uma agência autônoma do governo dos Estados Unidos, denominada Inter-American Foundation, IAF, que apoia propostas de organizações que mantém parcerias com atores diversos, com o objetivo de canalizar os esforços de desenvolvimento de base diretamente para a sociedade civil organizada da America Latina e Caribe. No caso das bordadeiras, o projeto envolve recursos da ordem de U$ 130 mil.
“Estamos nessa luta rumo a vitória porque creio, juntamente com os demais envolvidos nessas ações, que estamos batalhando por uma vida melhor”, diz entusiasmada a bordadeira Raimunda Cardoso da Silva, de 66 anos.
O representante da IAF, David Fleischer, fez uma visita ao grupo e esclareceu que a instituição recebe várias demandas e que a presença dele na comunidade já significa que 50% do processo para aprovação do pleito foi cumprido.
“Vim conhecer a comunidade e esta visita já faz parte do processo de seleção, visto que tenho a oportunidade de conhecer os protagonistas e os objetivos do trabalho que será desenvolvido com o apoio da fundação”, pontua.
A proposta do projeto A Grota: Moda COMpaixão é atuar com atividade produtiva por meio dos bordados e formação profissional gratuita, proporcionando a geração de emprego e renda e de promoção da saúde, igualdade de oportunidades, inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social, entre outras ações alternativas de manutenção do bem-estar da comunidade.

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