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Caçada ao MST: Ruralistas criam CPI para investigar o "real propósito" do movimento

Não há fato determinado que justifique a criação da CPI

Foto: ReproduçãoBandeira do MST
Bandeira do MST

BdF - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), leu na noite desta quarta-feira (26) o requerimento para a criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

O objetivo declarado da Comissão é investigar o "real propósito" do movimento, bem como seus meios de financiamento. 

A leitura do requerimento em plenário é apenas o início do processo de instalação da CPI. A partir de agora, começa a negociação entre os deputados em relação à composição da comissão. Haverá 27 membros titulares e o mesmo número de suplentes.

De acordo com a Folha de S. Paulo, um dos parlamentares mais cotados para assumir a relatoria da CPI é Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro e acusado de cometer crimes ambientais. A presidência pode ficar nas mãos do deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS).

Lira também leu requerimento de outras duas comissões: a da Americanas e a da manipulação de resultados em partidas de futebol. O presidente da Casa já havia indicado que faria isso ainda nesta semana.

"Sem fato determinado"

Pelo regimento da Câmara, os pedidos para CPIs devem contrar a assinatura de pelo menos 171 deputados, indicação de tempo de duração da investigação e um fato determinado. Em entrevista realizada no dia 14 de abril, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, afirmou que faltava ao pedido de instalação da CPI o fato determinado.

"O MST fez praticamente menos de dez ocupações de terra e [o pedido] não tem nenhum fato pré-determinado. O MST também não tem convênio com governo em nenhum estado. O movimento já demonstrou que é uma organização que produz alimentos saudáveis e por isso queremos essa reunião com o Lira para fazer um bom debate com eles sobre esses assuntos."

No dia 19 de abril, centrais sindicais publicaram uma nota conjunta repudiando ataques e perseguições contra o movimento. O texto destaca que o MST "construiu sua organização e seus métodos de luta, formas de pressão e realizou neste mês (Abril) diversas manifestações e atos, com a disposição e o intuito político de abrir um processo negociação, depois de um governo federal sombrio, que se pautou por formas antidemocráticas e autoritárias".

O texto é assinado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB).

Frente Agropecuária paga campanha contra MST no Facebook e Instagram

Entre 11 de março e 12 de abril, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pagou ao menos 20 anúncios no Facebook e no Instagram que trazem mensagens contrárias ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As publicações tiveram mais de 1,2 milhão de impressões – que são as vezes que um anúncio aparece em uma tela – e a publicidade custou cerca de R$ 3,3 mil. Os dados constam na Biblioteca de Anúncios da META, que mostra que só outros cinco anúncios impulsionados pela FPA no período analisado não eram direcionados ao MST.

Os anúncios foram bancados pelo Instituto Pensar Agropecuária, think tank financiada diretamente por entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Indiretamente, participam do Instituto empresas que mantêm essas associações, o que inclui multinacionais como Cargill, Bunge, Nestlé, JBS e Bayer. Dossiê do “De Olho Nos Ruralistas” destrinchou os financiadores e a atuação do instituto de lobby, que presta suporte técnico, organiza eventos e financia as ações da bancada ruralista no Congresso.

O principal material veiculado pela FPA é um vídeo de um minuto de duração com narração profissional e trilha sonora de suspense. A peça fala em “35 invasões em 2023”, relaciona as ações com o aumento do desemprego e uma menor oferta de comida. O mote é a frase “quem invade terras, invade também a sua casa, invade a sua mesa”. O vídeo, assim como a maior parte do conteúdo patrocinado pela entidade, foram veiculados ao longo da primeira semana de abril, nomeada pela entidade como “Semana do Combate à Invasão no Campo”.

Em julho de 2022, o pensarpiaui entrevistou Gilmar Mauro, coordenador nacional do MST. Reveja:

Em setembro de 2021, o pensarpiaui entrevistou o deputado Ziza Carvalho sobre o pequeno produtor rural e o agronegócio no Piauí. Reveja: 

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