Pensar Piauí

Brasil só conseguirá cumprir metas se trocar presidente em 2022

Qualquer meta com a qual o Brasil se comprometa na COP será letra morta se o presidente da República continuar sendo Bolsonaro

Foto: Montagem pensarpiauíCOP - 26

 

Qualquer meta de redução de emissões de carbono com a qual o Brasil se comprometa na COP 26, a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que começa neste domingo (31), será letra morta se o presidente da República continuar sendo Jair Messias Bolsonaro.

Todos os que se debruçam sobre o assunto, de cientistas a organizações da sociedade civil, passando por políticos racionais, técnicos do governo e diplomatas até agropecuaristas, industriais e investidores responsáveis sabem que a reeleição de Jair em 2022 lhe dará um salvo-conduto para aprofundar uma política predatória.

Sua recondução o poder representará, na prática, uma banana que os brasileiros darão a esses acordos e ao resto do mundo, mas também à sua própria qualidade de vida e de seus filhos e netos, uma vez que eventos climáticos extremos, como secas, chuvas, tempestades de poeira, estão cada vez mais frequentes e transformando nossa vida num inferno.

Ou você acha que a falta de água nos reservatórios das hidrelétricas foi apenas derivada de uma seca sazonal trazida pelo fenômeno La Niña? Ignorando que a vazão dos rios mudou e o país está mais seco (perdemos 15,7% de superfície de água em quase 30 anos, o equivalente a 3,1 milhões de hectares, de acordo com pesquisa do MapBiomas), o governo Bolsonaro fez uma gestão negacionista dos reservatórios e, hoje, estamos sob risco de apagão e com conta de luz nas alturas.

Desde o início de seu mandato, Bolsonaro tem enfraquecido as instituições de fiscalização, como o Ibama, o ICMBio e a Funai, protegendo madeireiros, garimpeiros e pecuaristas ilegais. É vergonhoso admitir para o mundo, mas grileiros de terra e invasores de territórios indígenas são a base de apoio do presidente do Brasil.

Tanto que não é segredo que Jair tem abertamente dito a eles que podem ficar tranquilos que seu governo garante a impunidade diante do desmatamento. E empunhando teorias da conspiração sobre a invasão da Amazônia por países estrangeiros, ele traz para o balaio um naco dos militares desconectado da realidade.

Caso exemplar dessa política bolsonarista em que o certo torna-se errado e o errado vira o certo foi a punição a Alexandre Saraiva, delegado da Polícia Federal responsável pela maior apreensão de toras de madeira da história. Após encaminhar uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal contra o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por ele ter dificultado o trabalho da fiscalização e defendido interesse dos criminosos, Saraiva foi transferido da Amazônia para Volta Redonda (RJ).

Como o Brasil vai explicar se alguém questionar na COP 26 que o ministro responsável pela área ambiental foi acusado de ajudar no comércio ilegal de madeira na floresta amazônica e também recomendou ao presidente aproveitar que a imprensa estava focada nas mortes por covid-19 para "passar a boiada", derrubando leis e regras de proteção ambiental, como ele fez na hoje famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020?

Claro que há gente muito boa e comprometida na delegação brasileira que está em Glasgow, na Escócia. Mas, dada essa contradição gritante entre discurso e prática, seria melhor assumirmos que o objetivo do governo na conferência é fazer greenwashing, a famosa lavagem de marca. Considerando que há muita multinacional estrangeira com o mesmo objetivo, que adora doar uma cesta básica e fazer um comercial bonitão para a TV, mas não investe para tornar seu negócio menos predatório, é capaz de conseguirmos vários aliados de peso.

O presidente topa discutir redução de emissões de metano através da adaptação da atividade pecuarista. Só não quer fiscalizar e punir quem deixar de fazer isso. Como bem disse a ativista sueca Greta Thunberg, governos como o nosso gostam de um bom blá, blá, blá.

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