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Brasil, Bolsonaro e as manifestações de hoje

Brasil, Bolsonaro e as manifestações de hoje

Por Luis Felipe Miguel, professor da UnB, no facebook Tornou-se quase lugar comum, entre analistas da centro-direita à esquerda, dizer que Bolsonaro sai perdendo, qualquer que seja o resultado das manifestações de hoje. Se forem um fiasco, ele perde capital político. Se foram um sucesso, ele piora sua relação com o Congresso e com o Supremo. Eu acho, ao contrário, que Bolsonaro tem pouco a perder. Dificilmente as manifestações vão flopar de maneira indiscutível, o que seria, sim, um problema. Mesmo que sejam fracas, devem reunir gente suficiente para que seus seguidores garantam que foi um sucesso retumbante - e seus seguidores, não custa lembrar, são bem treinados na arte de negar evidências.
Manter a agressividade de uma minoria radicalizada em alto grau é o que interessa a Bolsonaro. Ele construiu Mourão e o centrão como inimigos, o que faz com que as soluções à mão para a velha elite política (impeachment, parlamentarismo branco) despertem a ira de sua tropa só de serem cogitadas. A classe dominante brasileira, por motivos diversos, alguns deles psicanalíticos, fechou para si mesma o caminho que a racionalidade política exigiria: retomar as negociações com uma esquerda pra lá de moderada, tirar Lula da prisão e pacificar o país isolando as hordas de fanáticos do nosso projeto subnormal de Duce tupiniquim. Ela quer manter, sozinha, o veto ao campo popular como interlocutor legítimo do debate político e, ao mesmo tempo, colocar Bolsonaro de escanteio. O objetivo do ex-capitão é mostrar que isso não será possível e que terão que aceitá-lo com Queiroz, com Olavo, com tudo. Em suma: ele não quer governar, quer manter-se no governo para avançar o pequeno elenco de pautas que o interessam diretamente (liberação das armas, flexibilização da legislação de trânsito e ambiental, proteção ao clã e às milícias vinculadas). Sabe ou intui que não tem condições de manter negociações efetivas com os outros poderes. Quer é estar em posição de força para as escaramuças que certamente continuarão. Se as manifestações forem grandes, ótimo. Se não forem um malogro completo, dá pro gasto.

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