Pensar Piauí

Bolsonaro fala de tubaina enquanto faltam analgésicos para intubação

O presidente da República sorri, zomba, brinca com a dor alheia

Foto: Francisca CarvalhoFrancisca Carvalho
Por Francisca Carvalho, assistente social 

Dia desses, numa de suas lives, o Presidente da República do Brasil fez uma piada com a palavra “tubaína”, se referindo aos pacientes de covid 19 que são intubados quando vão para as UTIs.

O Presidente não estava se referindo à marca de refrigerante, como seus apoiadores tentaram justificar, até porque o próprio presidente, após falar sobre a “tubaína”, perguntou “entendeu?”, rindo sarcasticamente em seguida. E antes que alguém possa dizer que isso não é verdade, saibam que ele sorri, zomba, brinca com a dor alheia nos bastidores do planalto, e continua negando um vírus letal e ignorando os mais de 63 mil mortos e mais de um milhão e quinhentos mil infectados pelo coronavirus. No Brasil, são mais de mil mortes todo dia, o que já nos tornou o epicentro dessa pandemia. Mas o Presidente da República diz que é “normal”, entre outras aberrações que já foram parar nos jornais do mundo inteiro.

É importante lembrar que a intubação é um procedimento extremamente delicado, doloroso, invasivo, que precisa ser feito à base de anestesia geral, porque nenhum paciente conseguiria sobreviver à dor dilacerante e às complicações de uma intubação sem o sedativo. Muitos profissionais de saúde afirmam que quando o paciente é intubado, suas chances de sair com vida diminuem bastante.

E a questão central é que estamos num dos momentos mais graves da pandemia de covid 19 no Brasil, pois o governo brasileiro não atuou de forma rápida, eficiente, preventiva, nem tampouco tomou medidas eficazes, aliás sequer respeitou as recomendações da Organização Mundial de Saúde. O coronavirus, além do seu alto grau de letalidade, tem como principal característica a sua velocidade. Cada milésimo de segundo conta. 

Lamentavelmente, aqui tudo foi feito absolutamente sem coordenação alguma, sem ministro da saúde, sem a menor organização e/ou seriedade que requer uma pandemia de um vírus tão letal como esse. O governo brasileiro foi na contramão da maioria dos países que hoje estão conseguindo sair do isolamento social porque tomaram providências em tempo, ou seja, desde o início da pandemia.   

E nesse momento tão crítico, nos estados e municípios brasileiros estão faltando, não apenas leitos de UTIs, mas também os equipamentos para os profissionais de saúde (os EPIs) e, além disso, é muito grave a falta de analgésicos para serem usados no procedimento de intubação, o que pode condenar à morte milhares de pessoas, um verdadeiro genocídio aos olhos do mundo.

O governo federal só repassou aos estados e municípios um terço da verba que deveria ser destinada à saúde para o enfrentamento da Covid 19. O restante do dinheiro segue retido, conforme já foi denunciado pelo Conselho Nacional de Saúde. O dinheiro que deveria ir para os estados e municípios está retido pelo governo federal em meio a uma pandemia Talvez quem sabe possa ser utilizado para a compra de mais votos que serão necessários na votação do impeachment, quem sabe? O que sabemos é que esse dinheiro não chega aos estados e municípios, assim como o recurso do auxílio emergencial não está chegando às milhares de famílias que estão em situação de miséria absoluta, necessitando desse auxilio emergencial. As últimas noticias dão conta de que parte desse recurso foi desviado para militares da reserva e até para filhos da classe média alta brasileira.

Agora, mais do que nunca, está nas mãos da sociedade civil, continuar com as medidas orientadas pela Organização Mundial de Saúde para combate à pandemia. É importante ficar em casa porque, mesmo quem não tem o vírus, ao sair de casa, estará ajudando espalhar, ou seja, estará contribuindo com sua transmissão, e sua velocidade de contágio é altíssima. Além disso, o uso de máscaras, o uso de álcool em gel, para higienização das mãos, a higiene da casa, das compras de supermercado, são algumas medidas cotidianas que precisamos dar continuidade e não relaxar, por nossas vidas e pela vida dos nossos entes queridos.
 

Uma das grandes lições desse vírus é que o que você faz ou deixa de fazer pode afetar, e muito, a vida de outras pessoas. E disso posso falar com propriedade pois perdi minha mãe há alguns dias atrás porque ela não teve a chance de ser atendida em uma UTI. Todos os leitos de UTIs estavam ocupados por pessoas que foram contaminadas com esse vírus provavelmente nas ruas, e minha mãe, uma mulher que esteve sempre em casa se cuidando, foi a óbito por um AVC, sem ter conseguido ao chance de se tratar em um leito de UTI, nem em hospitais públicos, nem privados, pois todos estavam lotados.

Então, antes de sair de casa, pense um pouco, pois estamos sem governo, sem leitos, sem sedativos, sem UTIs, sem EPIs, etc. Além disso, quando você sai de casa, não é somente sua própria vida que você está colocando em risco, mas a vida dos que moram com você e também a vida de outras pessoas que estão em casa em quarentena e quando precisarem de um leito, podem perder sua vida sem consegui-lo, por conta dos atos inconsequentes de outras pessoas que pensaram só em si mesmas.

“A gente ainda pode ser feliz, juntos nós iremos conquistar”        

   (Planta e Raiz)

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