Bolsonaro estuda torturar o STF até que o tribunal grite o que ele deseja ouvir
Às vezes, democracias morrem sem um único tiro. Pior, com a chancela da maioria das urnas.

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook
Quem conhece bem nosso presidente sabe que ele adoraria se autoproclamar Bolsonaro 1º, implementando um governo absolutista. Quem sabe até dar início a uma linhagem real. Na Inglaterra, temos a Windsor. Na Espanha, a Bourbon. No Brasil, seria a Dinastia do Vivendas da Barra.
Há duas visões sobre a ameaça de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal de 11 para 15 ministros, em um segundo mandato de Jair, para subordinar o Poder Judiciário às necessidades do bolsonarismo.
1) Ele está fazendo discurso retórico para deixar o STF pianinho nas eleições e para excitar, nesta reta final da eleição, seus fãs e apoiadores que se beneficiariam de um enterro da Constituição cidadã de 1988. Por exemplo, setores evangélicos poderiam travar avanços em pautas comportamentais, como direito ao aborto, e ruralistas aprovariam o Marco Temporal contra o interesse dos indígenas.
2) Ele já está didaticamente explicando como pretende enterrar de vez a separação entre os poderes e dar inicio a um novo período autoritário. Com um Congresso e um Supremo amigos, uma emenda permitindo incontáveis reeleições poderia ser aprovada e chancelada, como já aconteceu em outros países.
A falta de criatividade de parte da elite intelectual a leva a crer que é uma coisa ou outra, quando o bolsonarismo não é apenas uma visão política e social, mas também tática e estratégia.
Quem afirma que isso é só retórica é porque perdeu as quatro primeiras temporadas desta série que mostra um país tropical transformado em distopia após um militar medíocre e deputado preconceituoso chegar ao poder. Ou porque acredita na Mula-sem-cabeça e nas instituições funcionando normalmente.
Como já disse aqui, quando se fala em golpe de Estado, a imagem histórica remete a uma fila de tanques descendo de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e a imagem moderna aponta para um cabo e um soldado batendo na porta do STF. Mas o uso de tropas é desnecessário. Para um golpe, basta que o Poder Executivo passe a governar sem freios nem contrapesos dos outros poderes.
Às vezes, democracias morrem sem um único tiro. Pior, com a chancela da maioria das urnas.
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