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Basílica de Aparecida: Uma Bíblia de pedra

O Monge detalha os aspectos de arte da Basílica e como ajudam na evangelização

Foto: InternetBasílica de Aparecida
Basílica de Aparecida

Por Dom João Baptista Barbosa, Monge Beneditino, no A12 

Todos sabemos que a igreja enquanto construção fala. Ela é uma pregadora das maravilhas de Deus. Estas construções nos centros das grandes cidades, nas periferias, no interior, ou sozinhas às margens das estradas, denunciam a presença de Deus. A cruz, encimada nas torres ou presente na fachada, diz que ela é uma mensageira do Deus de amor, beleza e misericórdia, o qual nos redimiu pregado numa cruz, e que três dias depois ressuscitou.

Na Idade Média a maioria das pessoas não sabiam ler. Alguns poucos tinham o privilégio de decodificar letras, formar palavras e frases, ler. Desta maneira, as catedrais se tornaram as “Bíblias de pedra”, ornamentadas com cenas bíblicas e com a vida dos santos, contribuindo para a compreensão da história sagrada. Aliás, desde o início a Igreja soube se unir às expressões artísticas para anunciar a mensagem da salvação.

Nos primórdios, estava em voga a arte grega, tendo influência em muitas regiões, desde o Egito, passando pela Palestina até chegar no que é hoje o Paquistão, devido à expansão conquistadora de Alexandre, o Grande, propagando com sua conquista a cultura helénica. Roma dela se aproxima e tira grande proveito. A Igreja da antiguidade bebe de uma mistura cultural entre o judaísmo, o helenismo e a tudo o que era romano. Soube se aproximar de outros costumes e culturas, mas em bem menor escala, no que ficou conhecido como aculturação.

Vale lembrar que no desenvolvimento da cultura, outras formas de arte surgiram ao longo da história. Ainda na antiguidade conhecemos o apogeu da arte bizantina, no Oriente. Durante a Idade Média o espirito criativo se “deteve” muito mais fortemente nos mosteiros. Tivemos a arquitetura românica, a gótica, o surgimento do vitral, as esplêndidas tapeçarias e a iluminura. Mudanças ocorreram no segundo quartel do século XV, quando teve início o renascimento com o humanismo. Depois disso, outras expressões surgiram com mais rapidez, como o maneirismo, o barroco e o rococó. O século XIX foi o do romantismo e do classicismo que como o renascimento, mas com outro foco, redescobriram as riquezas do passado. No final deste século, no entanto, houve uma reviravolta e muitos artistas e teóricos questionaram todos estes estilos, criando novas escolas, agora mais numerosas, com suas concepções das mais diversas, e uma dando lugar à outra, com suas novidades que causaram grande desconfiança e desconforto. Realmente, já no século XX o modernismo questionador foi se impondo.

A Igreja não a aceitou de primeira e ainda hoje muitos clérigos e outros fiéis não a apreciam, rejeitando muitas construções sacras nos estilos ditos modernos. O Concílio Vaticano II deu instruções para a construção de novas igrejas e a adaptação dos templos já existentes à reforma litúrgica, que já vinha sendo gestada, e que, pouco a pouco, tomou conta de praticamente todas as paróquias.

Não há um estilo cristão no que diz respeito à arte. Toda verdadeira arte é anunciadora de Deus. Desta maneira, desde os primórdios, como vimos, a Igreja soube se unir às expressões artísticas para anunciar a mensagem da salvação.

Como uma Bíblia ilustrada na pedra é a Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida

Foto: InternetBasílica de Aparecida
Basílica de Aparecida

A construção iniciada ainda nos anos 1950 e que ainda não está finalizada, é um dos principais símbolos cristãos do Brasil. Em 2001, o saudoso artista sacro Claudio Pastro, falecido em 2016, recebeu o convite de Dom Aloísio Lorscheider, para empreender a decoração interna da basílica, desde o piso, ao teto. Em todos os lugares o traço do artista é perceptível, até mesmo no trono da imagem da Virgem.

Foto: InternetBasílica de Aparecida
Basílica de Aparecida

Comecemos pelo altar. Ele é o centro, e como centro, tudo dele converge. Desta maneira, o presbitério foi construído na convergência entre os quatro lados iguais da construção, já que a igreja segue o plano de uma cruz grega. O presbitério segue a forma circular e de qualquer ponto os fiéis podem ver, assistir o ato litúrgico. Seu piso traz como que ondas como que um lago, quando atingido por uma pedra, se espalhando por todo o espaço. Sobre este altar está a grandiosa cúpula com 1800m2. Internamente é ela revestida em mosaico, tendo uma imensa árvore sobre um fundo dourado. Também se veem muitos pássaros nativos da fauna brasileira, como araras, tuiuiús, tucanos e maritacas, colorindo ainda mais o espaço. Trata-se da árvore da vida que alcança até o céu e onde os pássaros vão nela repousar. Sustenta esta cúpula arvorada, um baldaquino, onde estão representados a flora e a fauna das regiões do Brasil, nas mais diferentes espécies e estações. Vale lembrar que uma imensa cruz vazada com a imagem do Cristo encontra-se suspensa sobre o altar e que pode ser avistada de muitos pontos.

Um elemento muito presente na basílica é o tijolo aparente e sua cor avermelhada, lembrando o barro de que somos feitos e da matéria prima utilizada para a confecção da imagem de Nossa Senhora. Complementando o tijolo encontramos o brilho do azulejo, que além de recordar nossa herança ibérica e embelezar ainda mais o templo, lembra a durabilidade. Os desenhos dos azulejos são bem variados. Além das cenas bíblicas, eles trazem ornamentos de plantas e frutos encontrados na Bíblia, e animais. Dentre as plantas e frutos, temos palmeiras, romãs e maçãs.

No alto, nas quatro naves da igreja, se veem painéis com cenas evangélicas. Em cada uma das naves, os painéis seguem cores distintas, conservando tonalidades de azul em todos eles. Nas naves Norte e Sul, por exemplo, os painéis seguem uma paleta variada em azul, na Oeste, temos lilás e verde, e na Leste, laranja e vermelho.

A basílica comporta algumas capelas, como a do Santíssimo Sacramento, a de São José, e as externas, no final das galerias que forma uma espécie de abraço, à maneira da colunata de Bernini, na Praça de São Pedro, no Vaticano. Na basílica mariana em Aparecida, estas capelas externas é a do batismo, onde ocorrem este sacramento, e a da Ressurreição, que conserva o mausoléu dos bispos e arcebispos de Aparecida. Emblemática é a capela das velas. Nela os fiéis cumprem o ritual do acendimento das velas, muitas vezes na estatura física do devoto. Mais simples que as demais, tem apenas como ornamento uma imensa cruz de aço vazada com a imagem de Cristo. O dourado das chamas bruxuleantes das velas oferece um aspecto místico ao ambiente, ajudando nas orações pessoais e gerais, além de fazer as pessoas pararem para observar a consumação das velas, como forma de meditação sobre o sentido da própria vida.

Foto: InternetTorre da Basílica de Aparecida
Torre da Basílica de Aparecida

A torre da igreja, denominada Torre Brasília é o ponto mais alto da basílica. Ela possui mais de 100 metros de altura e oferece ao visitante um museu histórico que conta a história da devoção à Nossa Senhora Aparecida. No alto, um belvedere donde se pode admirar a redondeza, o Rio Paraíba do Sul, as cidades de Guaratinguetá e Roseira, e a própria Aparecida. Um relógio nos lembra que o tempo passa e devemos saber bem aproveitá-lo.

O piso é também muito simbólico. Elementos como a água, a lembrar um rio, nos faz “nadar” de um lugar a outro. Nele se encontram o cesto de peixes, lembrando a multiplicação dos pães, a cruz e o monograma de Cristo. Todos são referências bíblicas.

Há diversos outros pontos em que o visitante/peregrino pode desfrutar da espiritualidade e do reavivamento da fé, lembrando que as Sagrada Escrituras são lembradas em cada tijolo, azulejo, pavimento, de alto a baixo. A basílica é uma imensa catequese. Para bem entender os elementos arquitetônicos há uma maravilhosa visita monitorada com profissionais qualificados que nos ajudam a adentrar neste mistério da Bíblia de pedra.

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