Pensar Piauí

A Batalha do Nordeste, uma das maiores da guerra do coronavírus está longe de ser ganha

A afirmação é do cientista Miguel Nicolelis

Foto: VejaMiguel Nicolelis
Miguel Nicolelis

Fonte: Viomundo

Por Miguel Nicolelis 

Desde o final do mês de março, quando o Consórcio Nordeste decidiu instalar, numa atitude inédita e audaciosa no Brasil de hoje, o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus, para sugerir e recomendar aos nove governadores da região as melhores práticas científicas para enfrentar o coronavírus, a proposta foi a de colocar o Nordeste no ataque para ganhar a maior batalha sanitária da sua história.

Para começar, o Comitê incorporou, como primeira ferramenta para atacar o vírus onde ele nos ataca, na casa das pessoas, nos lugares de trabalho e nas vizinhanças das grandes capitais, o aplicativo telefônico, desenvolvido pelo governo da Bahia, Monitora Covid-19.

Esse app permite ao usuário relatar seus sintomas usando o telefone e, se classificado como paciente de alto risco na Bahia, Maranhão, Sergipe, Paraíba e Piauí, receber consulta médica via telemedicina.

Além disso, o app fornece dados para identificar diariamente onde estão os novos focos de infecção por todo o Nordeste (e pelo país), identificados por meio de grande variedade de análises de dados, executadas em sala de situação virtual construída para agora.

De posse dos dados, o Comitê propôs que Brigadas Emergenciais de Saúde, pequenos grupos de agentes de saúde, médicos de família e outros profissionais fossem a campo para socorrer infectados, bem como rastrear seus contatos e usar testes para determinar a dimensão da pandemia.

Depois de quatro meses de trabalho, o Monitora Covid-19 foi baixado mais de 224 mil vezes. Um total de 86.696 pessoas já usou o app para relatar sintomas. E mais de 58 mil consultas de telemedicina foram realizadas para orientar os nordestinos. Quanto às Brigadas, se espalharam pelo interior de 160 municípios no Piauí, graças ao Programa Busca Ativa do estado, bem como no Maranhão.

Semana passada, João Pessoa criou as primeiras 40 Brigadas, tendo visitado mais de 3.800 pessoas em poucos dias. Brigadas Emergenciais de Saúde também surgiram no sul da Bahia, e em outras regiões do Brasil, no leste do Pará e até na Zona Leste de São Paulo.

Análises matemáticas permitiram estudar como o vírus se espalhou através da malha rodoviária brasileira, a partir das capitais da costa do país.

Foi nos aeroportos internacionais dessas capitais que o inimigo invadiu o país, entre fevereiro e março, quando o espaço aéreo permaneceu aberto a voos internacionais de forma inexplicável.

Com tais análises, fomos capazes de prever o processo de interiorização da pandemia pelo país e deduzir o chamado “efeito bumerangue”: o que prevê que, devido ao refluxo de casos graves no interior, as capitais, que têm infraestrutura hospitalar maior, podem sofrer nova sobrecarga nos sistemas de saúde.

Tudo isso em meros quatro meses!

A Batalha do Nordeste, uma das maiores da Guerra do Coronavírus no Brasil, está ainda longe de ser ganha. Todavia, armado com o que há de melhor na ciência mundial, o Nordeste não ficou na retranca.

Atacou, foi para cima do inimigo, com tudo que tem de melhor!

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