Pensar Piauí

2 de julho: a maior balada patriótica-religiosa-popular do universo, quiçá da Bahia inteira

Os baianos enchem as ruas da Lapinha ao Campo Grande. Celebrando a liberdade, a independência política em 1822.

Foto: Facebookbahia

Por Wlamyra Albuquerque, professora, no Facebook.

Hoje é o dia da melhor festa baiana. É 2 de julho! Invenção festiva que surgiu de um fato histórico, a independência política em 1822-23, e se tornou a maior balada patriótica-religiosa-popular do universo, quiçá da Bahia inteira.
Celebramos nossa disposição pra lutar por liberdade. LIBERDADE, palavra que reverbera todo ano no desfile dos caboclos, no grito dos excluídos, nas fanfarras com pegada LGBTT. Nos grupos de samba que batucam na rua há gerações, nos candomblés que celebram os donos da terra, o índio. 
Hoje é 2 de julho, a melhor festa baiana.

A gente celebra a vitória contra as tropas portuguesas em 1822-23 sambando, rezando pros caboclos, vaiando políticos, bebendo cravinho no Terreiro de Jesus e aplaudindo as piruetas das balizas gays e trans.
Pois é. Há séculos rezamos com missa e terço para entidades do candomblé, bebemos num terreiro que é de Jesus e gritamos as nossas pautas políticas diante dos políticos que tem coragem de ir às ruas. 
No 2 de julho a gente se veste de verde amarelo pra cantar "com tiranos não combinam brasileiros corações". Sim, no dois de julho o verde e amarelo é emblema de liberdade conquistada por gente negra que reverencia gente indígena e sertaneja.

A nação brasileira nem existia quando os portugueses foram expulsos pela boca da baia de todos os santos. Mas, negros e indígenas já tinham a liberdade como palavra de ordem. O sentido popular da liberdade empurrou as tropas portuguesas para fora do Brasil. Nem durante a ditadura os governantes conseguiram lhe dar um sentido de patriotismo militar. Nunca fomos 7 de setembro.

Quem celebra a liberdade gosta é de povo.
"Com tiranos não combinam brasileiros corações", era a utopia nativista fundando esse país lá no século XIX.
No dia dois de julho, os baianos enchem as ruas da Lapinha ao Campo Grande. Cataventos verde-amarelos, vaqueiros com roupa de couro, missa negra na igreja do Rosário, rezas e bilhetes aos pés do caboclos, samba no Pelourinho, protesto político na Cruz do Paschoal.

Em 2020, pela primeira vez, em 197 anos não tem desfile, samba, indígenas de Itaparica, vaqueiros do alto sertão, crianças correndo na rua, estudantes das escolas públicas tocando nas bandas, filhos e filhas de santo incorporando caboclos, lideranças políticas testando popularidade.
Tô com uma saudade imensa de, sendo baiana, ter orgulho deste país em suas lutas pela liberdade vestida de verde e amarelo.

Foto: Facebookbahia

ÚLTIMAS NOTÍCIAS