Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Violência e educação

Foto: ReproduçãoEvasão escolar
Evasão escolar

Na última década, a violência atraiu muita atenção midiática e popular, gerando um medo social no nosso cotidiano. A violência tem se destacada como principal preocupação entre as pessoas de todos os estratos sociais, principalmente aquela que atinge a vida e a integridade física dos indivíduos (Sérgio Adorno, 1994).

Paralelamente, com a pandemia de COVID-19, além de milhares de mortes, a evasão escolar (nas escolas públicas), provavelmente, cresceu, impactando no aumento da violência e criminalidade juvenil. O estudo sobre a “Permanência Escolar na Pandemia” (PEP) realizado pelos Tribunais de Contas (TC’s), Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB) e Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (IEDE) evidenciou que as desigualdades regionais ainda permanecem inalteradas no país, mesmo com algumas políticas públicas e sociais.

Os dados mostram que nem todos os municípios do país tiveram as mesmas condições de monitorar os estudantes e assegurar o vínculo com a escola desde março de 2020, quando se iniciou a pandemia de Covid-19, o negacionismo da ciência, a implementação das medidas de isolamento social, o aumento da violência doméstica, o lobismo, a alta no tráfico de drogas e de armas.

Segundo o monitor da violência do G1, a Bahia foi o estado brasileiro que registrou a maior quantidade de mortes violentas no primeiro semestre de 2022 e das dez cidades mais violentas no Brasil, nove estão no Nordeste, que apresenta altas taxas de evasão escolar. Mesmo assim é do Nordeste o recorde de notas mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Desde 2021, a região obtém o título de destaque com as melhores notas nas provas do ENEM, mesmo com a evasão escolar e violência.

O que se percebe, empiricamente, é que quanto maior a evasão escolar, maior a probabilidade de mais jovens serem cooptados pelas organizações criminosas, pois os estudantes que abandonam a escola costumam ter baixa autoestima. Tornam-se pressas fáceis para o uso e tráfico de drogas, mostrando que a alta da violência tem uma relação direta com a baixa frequência escolar.

Porém, para compreender os determinantes da violência, da evasão escolar e o papel da educação, algumas questões são pertinentes a uma reflexão: como a violência é engendrada na sociedade? Com se dá a evasão escolar? Quais os valores que guiam as diferentes práticas sociais, como a educacional? Qual o papel da educação e da escola numa sociedade violenta como a brasileira?

Para além disso, será fundamental mapear os motivos da evasão escolar; investir em tecnologias educacionais; realizar projetos sociais intersetoriais e interdisciplinares; estreitar a relação com os pais; instar a formação continuada dos profissionais da educação; reformar e/ou construir prédios escolares apropriados para uma educação de tempo integral.

É fato que, a violência urbana, a policial, a familiar, a escolar e outras formas de manifestações estão em todos os estados e municípios do país (Vera Telles, 1996). Embora considerando que todas essas manifestações de violência estão imbricadas, a violência escolar, sobretudo a que se manifesta de forma subjetiva nas relações sociais no interior da escola tem crescido na última década.

A sociedade brasileira é violenta, logo o aumento da evasão escolar tende a estimular taxas elevadas de violações de direitos humanos, inclusive a violação do direito à vida de milhares de jovens. Assim, a realidade do oitavo país mais violento do mundo desmascara a visão tradicional de que o brasileiro “é um povo sentimental, ordeiro e pacífico” (Maria Victória Benevides, 1996).

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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