Pensar Piauí
Sociólogo, Professor aposentado da UFPI

Antonio José Medeiros

Sociólogo, Professor aposentado da UFPI

Um programa de ação, um programa de atitudes

Vi no primeiro discurso de Lula como presidente eleito, um programa de ação e um programa de atitudes. Essa última expressão pode soar meio estranha, mas expressa melhor o que quero dizer.

​Lula destacou os aspectos de seu programa de governo que julgou mais importantes, mas enfatizou algumas atitudes que vem assumindo e estimulando desde o início da campanha e que se tornaram mais necessárias com o clima pesado do segundo turno e com algumas reações posteriores à eleição.

Resgato a mensagem que enviei a algumas centenas de pessoas nos últimos dez dias da campanha do segundo turno:

O horizonte de nossa caminhada está claro:

1) vencer as eleições no 2º turno, dia 30 de outubro de 2022;

2) resistir às tentativas de tumulto e ameaças de violência até a posse em 1º de janeiro de 2023;

3) consolidar o Movimento Eleitoral Democrático como uma Frente Política Democrática para confrontar o bolsonarismo;

4) superar o clima de hostilidade e ódio, pela predominância de um debate político democrático e civilizado, sobretudo com uma nova linguagem na mídia e redes sociais;

5) reconstruir as instituições e políticas públicas econômicas e sociais;

6) intensificar um projeto de desenvolvimento sustentável, com bem-estar para todos, respeito à diversidade e integração soberana no mundo globalizado.

Fora o primeiro passo que já vencemos, os outros passos não são sucessivos, mas concomitantes. A PEC da Transição é o começo da reconstrução das políticas públicas. A Equipe de Transição está sendo formada na lógica da Frente Democrática. Os tumultos têm sido tentados, e estamos resistindo.

Mas é o Programa de Atitudes que pode concretizar a mudança à altura de que nossa sociedade precisa e que Lula propõe. Contra o bolsonarismo, para consolidar a Frende Democrática e para criar um novo clima de convivência civilizada na sociedade, as atitudes precisam ser de milhões, a começar pela militância do PT, pelos filiados de todos da Frente e pelos cidadãos e cidadãs que votaram no Lula. Só assim, a Frente permanecerá e se ampliará como Movimento que tocará as mentes e os corações da grande maioria dos brasileiros e brasileiras.

Com a palavra o Lula (transcrições do seu discurso):

(Democrcia - representativa, participativa, mobilizadora – frente ampla)

Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

É a vitória de um imenso movimento democráticoque se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha. E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo.

(Somos uma só comunidade política; adversários não são inimigos)

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.

Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.

(Reconstruir a alma do Brasil, uma cultura alegre e esperançosa)

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos– com oportunidades para transformá-los em realidade.

(Dialogar, negociar interesses e conflitos, construir consensos)

As grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo

Para além de combater a extrema pobreza e a fome,vamos restabelecer o diálogo neste país: diálogo entre o povo e o governo (conferências nacionais); diálogo com o Legislativo e Judiciário; diálogo com os governadores e os prefeitos; não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).

(Protagonismo no mundo globalizado; cidadania planetária)

O mundo sente saudade do Brasil, daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

(apoiou o desenvolvimento dos países africanos; integração da América do Sul; criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.)

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global.

(O desafio é imenso e é nosso; fazer política pode ser fazer Históia)

O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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