Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Quem cala consente

Foto: ReproduçãoPelo fim da violência contra a mulher
Pelo fim da violência contra a mulher

Não basta comemorar, lembrar e festejar o dia ou mês das mulheres – 8 de março –, sem enfrentar as causas de violências contra as mulheres. É preciso sensibilizar a sociedade sobre as formas de violência de gênero, tirando-a da letargia, da passividade e da conivência.

Não adianta se dizer desfavorável às formas de violências contra às mulheres, sendo um agressor, omisso ou permanecer estático frente aos estupros, humilhações, feminicídios, agressões e ofensas. Urge romper, em definitivo, com a ideia de que o ciúme, a sensação de posse, a necessidade de controle e de que a mulher deve satisfazer o homem.

Assim, é essencial compreender as causas e discutir sobre a questão, para ser possível desconstruir comportamentos violentos e instaurar uma convivência respeitosa entre homens e mulheres, enfrentando a violência de gênero com inteligência e ações cotidianas.

É fundamental uma política pública de educação de enfrentamento das violências contra às mulheres, como tema transversal da educação infantil até a pós-graduação, para ensinar como prevenir e denunciar os casos, além de criar redes permanentes de apoio e de acolhimento das vítimas. Pois, quem silencia, com quaisquer formas de violências contra às mulheres, tem parte nessa hecatombe humana – violência física; violência psicológica; violência sexual; violência patrimonial; violência moral; violência política de gênero etc.

É necessário e possível enfrentar e controlar os comportamentos agressivos contra as mulheres, pois quando a violência é vista como normal e tolerada pela sociedade, tende a se tornar cada vez mais escancarada e aumentar os casos de feminicídio. Pois têm relações com o machismo e à estrutura patriarcal da sociedade brasileira, cujo enfrentamento vai além de viatura lilás e de visões rasas como a castração química – um modo inútil de vingança de mulheres vítimas contra os homens. Isso não resolve nem controla as causas e a dinâmica do fenômeno social complexo.

Um dos principais problemas para o enfrentamento da violência no Brasil é a insistência em cultivar a mentalidade ultrapassada de que trata-se de uma questão só de polícia, sobrecarregando e subutilizando as forças de segurança a despeito do fenômeno sociocultural complexo, que está na formação do povo brasileiro (DARCY RIBEIRO, 2005). Por exemplo, o enfrentamento – e não o “combate”, que traz a ideia de guerra – das formas de violências contra às mulheres deve ser feito diariamente em todos os espaços sociais, e não, apenas, em situações extremas e pontuais.

As formas de violências contra às mulheres são, em tese, comportamentos socioculturais construídos, assimilados e reformados por práticas de um povo que experimenta uma vida violenta em sociedade por não ter consciência de uma teoria de si mesmo. Ou seja, sem compreender quem somos e o que somos e qual a importância de nosso país no processo civilizatório.

Assim, também, para enfrentar as violências contra às mulheres é essencial que a sociedade brasileira conheça, debata e repense a própria história, para construirmos uma narrativa edificante de nós mesmos, agregando e pactuando valores positivos, profícuos, edificantes harmônicos, solidários e justos.

Outro caminho é discutir, em todos os espaços sociais, 1) o conceito de masculinidade tradicional; 2) abolir expressões machistas; 3) não aprovar piadas machistas; 4) ouvir as mulheres; 5) incentivar a liderança de mulheres; 6) equiparar salários de homens e mulheres; 7) não julgar e revitimizar as mulheres.

Portanto, trata-se de um processo contínuo de desconstrução de padrões, de comportamentos inaceitáveis, torpes e machistas. E, quem cala consente.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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