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Economista

Acilino Madeira

Economista

Quando o bolsonarismo se desmanchar nos ares do Sul

Foto: DomTotalBolsonarismo

 

Em artigos anteriores, mencionei que nós herdamos dos tempos coloniais três instituições nada civilizadas: a escravidão (depois o racismo estrutural e institucional), o latifúndio (depois outras monoculturas e o agrobussiness antiambientalista) e a captura do Estado pelo privado (depois fisiologismos políticos, bolsonarismo e práticas do Centrão).

Estas três tristes heranças transformaram nosso Brasil em país bárbaro e violento. Não existe entre nós brasileiros um sentido viável de coletividade. Uma das maiores, se não for a maior concentração de renda no mundo é a nossa. A Oxfam Brasil divulgou no mês passado que “os ricos ficaram mais ricos durante a pandemia do Covid-19, entre março e junho deste ano. Mais especificamente, 42 bilionários do Brasil aumentaram suas fortunas em US$ 34 bilhões no período, o equivalente a aproximadamente R$ 177 bilhões”. Os dados da pesquisa foram divulgados na grande imprensa do país.

O que está na outra ponta desta brutal concentração de renda é uma nojenta desigualdade socioeconômica regional e populacional. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) divulgou que, no período da pandemia do Covid-19, o desemprego atingiu o índice de 12,9% da população. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, reconhece ter no Brasil, 38 milhões de invisíveis, em conta bruta e simples já temos mais de 30% da população em situação de vulnerabilidade, chegando a mais de 60 milhões de pessoas. Isto considerando a informalidade que fomenta a econômica subterrânea.

Aumentando cada vez mais o contingente de pobres e miseráveis caminha o Brasil. A pujança da economia informal e a corrupção andam de mãos dadas no Brasil. A nossa situação tende a piorar no curto prazo.

Endogenamente, nossa economia se encolheu, por ter o seu produto interno (PIB) reduzido pelo efeito da pandemia do Covid-19. O processo de desindustrialização pela dificuldade de aquisição de insumos intermediários (principalmente chineses), a fuga de capitais e a pauta governamental antiambientalista reforçam os processos exógenos de exclusão do Brasil da nova geopolítica internacional atenta a economia circular e a plataforma verde.

Contudo, o governo Bolsonaro tenta se aliar a um campo de relações internacionais negacionista, cujo grande comandante é Donald Trump. E se o Trump perder as eleições para os democratas (Joe Biden e Kamala Harris)? O Bolsonarismo continuará dobrando as apostas quando questionado por suas práticas políticas reacionárias e fora de contexto?

O que se aponta em um cenário de vitória dos democratas americanos é uma guinada grande na política externa dos EUA. A falta de experiência, faz com que o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, procure alinhar a diplomacia brasileira ao governo Trump, numa arriscada crença de que o conservadorismo ianque triunfará, havendo uma polarização entre negacionistas e o resto mundo.

E se os democratas ganharem as eleições presidenciais nos Estados Unidos? Provavelmente haverá uma aproximação entre os EUA e a União Europeia, numa revitalização da rota comercial do Atlântico Norte em outras modelagens e ações diplomáticas e comerciais. Neste diapasão, entre futuras sanções e embargos externos, o sebastianismo bolsonarista já não é mais o mesmo de outrora. Jair Messias Bolsonaro está largando a filosofia olavista e o credo ruidoso dos (neo) pentecostais para cair nos braços fisiológicos do Centrão político nacional.

Se até mesmo tudo que é sólido se desmancha no ar, imagine o fumacento governo Bolsonaro cercado por chamas que devastam a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e o Cerrado. Na moeda de hoje, mesmo sem uma mudança estrutural em nosso sentido histórico, por questões do protagonismo de forças políticas e econômicas exógenas, o bolsonarismo já está com os seus dias contados para se desmanchar nos ares dos trópicos do Sul.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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