Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

O reinado desnudo

Foto: MONTAGEM PENSAR PIAUÍO REI ESTÁ NU
O REI ESTÁ NU

O conto de fadas “A nova roupa do rei”, do literata dinamarquês Hans Christian Andersen, mostra-nos que, muitas vezes, pela necessidade de aprovação/aceitação nos colocamos em situação absurda, como, por exemplo, até aparecer nu em público. Porém, ser “rei” não te desobriga a enxergar o vazio.

Os últimos episódios envolvendo o gestor municipal, os vereadores e o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Teresina – SINSERM, principalmente com os profissionais da saúde e da educação, produziu um misto de sentimentos dolorosos de indignação, de decepção, de revolta e de ojeriza na categoria, que, sem dúvidas, terão desdobramentos na eleição de 2024.

Em um dos episódios, na quinta-feira (04/04), os vereadores da Câmara de Teresina aprovaram a manutenção do veto do prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, impedindo o reajuste de 20,8% sobre o salário dos professores (e demais categorias de servidores municipais), deixando os 5% oferecidos pela gestão municipal. Em Teresina, o Poder Legislativo tem 29 vereadores, onde 12 votaram pela manutenção do veto, 9 pela derrubada do veto e 8 ausentes – um gesto acovardado, que diz muito.

Trata-se de um episódio onde os poderes públicos municipais – Executivo e Legislativo – mostraram as suas armas, para reprimir e marginalizar a luta da categoria classista municipal. A sessão legislativa foi marcada pela falta de empatia por parte da maioria dos parlamentares, a repressão policial e os protestos da categoria – que alimentava a esperança de derrubada do veto do prefeito. Contudo, a força da “espada política” foi inclemente com a causa e os sonhos dos servidores públicos.

Para além do descaso político e a violência política, a desvalorização da categoria dos servidores públicos implicará diretamente na desmotivação funcional e, em consequência, na qualidade da prestação de serviços e do bem-estar dos munícipes.

Além disso, o tratamento perverso, a rigidez normativa, as pressões sociais e a depreciação do funcionário público podem formar um conjunto propiciador de problemas socioemocionais nos servidores, tais como os problemas cardiovasculares, a fadiga crônica, as lesões por esforço repetitivo (LER), o estresse, a depressão, o suicídio, as úlceras e a insônia (CHANLAT, 1996).

Noutro episódio, na quarta-feira (03/04), o professor da rede municipal, sindicalista e presidente do SINDSERM, Francisco Sinésio, foi, covardemente, agredido, pela segurança do prefeito de Teresina. Além de ser uma violência inaceitável, que por pouco não teve consequências mais graves, foi a forma que o atual gestor aceitou para “retribuir” à categoria municipal, através do professor Sinésio, por ter aberto as portas do SINDSERM para acolher o então candidato a prefeito na campanha eleitoral de 2020.

Naquele gesto, os servidores municipais estavam acreditando que, em sendo eleito gestor municipal, o atual mandatário no Palácio da Cidade daria, enfim, melhores condições de trabalho, manteria um diálogo com a categoria e, principalmente, teria mais respeito com os sindicalizados. Todavia, a traição se fez à força, como forma de humilhação aos servidores públicos municipais.

Assim, diante da inabilidade administrativa do gestor municipal e da insensibilidade política da maioria dos vereadores – “inimigos da educação” –, quanto às demandas dos servidores municipais de Teresina, só nos resta demovê-los do poder através do voto. Não se trata de uma vingança classista, mas de uma justiça política possível e necessária, a ser feita pela consciência política dos servidores municipais, ou seja, na eleição 2024: eles nunca mais!

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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