Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

O crime organizado

Foto: ReproduçãoCrime organizado
Crime organizado

 

Atualmente, no Brasil, um dos grandes desafios em segurança pública é controlar o crime organizado constituído por financiadores, mercadores, agentes públicos, logística de mercado, grupos faccionados e milicianos. Trata-se de um fenômeno social complexo, que exige uma compreensão através de estudos e pesquisas, aliando a leitura de dados a elementos conceituais e ações policiais, no intuito de problematizar, desvendar a arquitetura, os códigos das organizações criminosas e de suas práticas violentas.

Na minha tese de doutoramento em Antropologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 2013, já defendia que a lógica de atuação e a estrutural das organizações de violência (ou criminosas), enquanto constituintes do crime organizado tem relação com o processo estigmatório de lugares violentos e sujeitos perigosos, onde se estabelecem as disputas por territórios de poder entre grupos faccionados, contra os milicianos e as forças de segurança.

As organizações criminosas são transnacionais, que por meio de suas dimensões sociopolíticas, quando da atuação no âmbito local, nacional e internacional podem ou não estabelecer uma cadeia de interação entre tais esferas. Assim, é fundamental identificar os seus tentáculos para compreender a estrutura, o ordenamento de poder interno e o modus operandi.

Nesse sentido, o enfrentamento estatal deve começar pela reestruturação do sistema de segurança pública, por exemplo, por meio da criação de uma Delegacia Regional de Controle ao Crime Organizado (DRACO), com unidades estratégicas, para mapear os líderes, financiadores e os produtos, além de um sistema integrado de inteligência com o objetivo de produzir informações e conhecimentos, visando a desarticulação das organizações.

Nos meus estudos parti do pressuposto de que os poderes econômicos, políticos e institucionais subjazem os grupos criminosos organizados, possibilitando extravasar a vontade de poder dos seus membros, dando-lhes forças e cobertura, que os tornam capazes de mobilizar, organizar e interagir várias pessoas, para atuarem, racionalmente, no mercado de bens ilícitos (ou do crime).

A ancoragem ideológica do crime organizado é a maximização da vontade de poder, sendo um dos principais mecanismos para atrair e impelir os seus membros, estimulando rivalidades e disputas em busca da hegemonia no mundo do crime. Assim, favorece a criminalidade interna e transnacional; aumenta os índices de violência e criminalidade nos centros urbanos e nas fronteiras, sendo uma ameaça constante à soberania nacional.

Considerando que as atividades ilegais têm como objetivo o lucro monetário, o enfrentamento do crime organizado passa, necessariamente, pela identificação dos financiadores e a descapitalização dos empreendimentos, que são altamente centralizados e geridos com uma lógica capitalista – ou seja, a manutenção suficiente e ótima dos próprios padrões de acumulação já dados, ou a modulação apenas para sua ampliação.

Ressalte-se, porém, que, o crime organizado não se relaciona apenas com o tráfico de armas e drogas. No Brasil, uma de suas principais atividades é o desvio de dinheiro público e, no caso, os que se juntam para fazê-lo são, em geral, aqueles que deveriam zelar e coibir tal prática nociva à sociedade e ao Estado.

Portanto, o controle efetivo do crime organizado urge para permitir à sociedade o gozo do sentimento de segurança prometido pelo Estado em troca do direito natural da vingança, hoje substituído pela sensação de segurança, como discurso de retórica recorrente.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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