Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Marcha das Mulheres

Foto: ReproduçãoMarcha das Mulheres
Marcha das Mulheres

 

Chega de tanta violência contra as mulheres, de tantas dores e horrores, de corpos dilacerados, de crueldades, de estupros em universidades, do silêncio dos covardes. Chega de tanta maldade, de lágrimas derramadas, de genocidas sanguinários à solta. É preciso marchar à Brasília e exigir o fim disso tudo.

Não importa quão distantes estejamos. Nenhuma dor deve nos calar nem nos esmorecer diante do monstro da masculinidade, porque ele não é mais forte do que o nosso ele nunca mais – pelas nossas tataravós, bisavós, avós, mães, tias, irmãs, filhas, afilhadas, netas, sobrinhas, vizinhas, madrinhas, amigas violentadas e assassinadas. É preciso gritar ao mundo que parem.

Por isso, essa luta não é só das mulheres vitimizadas, mas de todos que já foram silenciados e violentados na sua dignidade humana. E, mesmo assim, não deixaram de acreditar na efetividade dos direitos humanos, na convivência com respeito, na justiça social, na igualdade e equidade de gêneros. Para tanto, deve-se eliminar o silêncio seletivo dos vis misóginos e fazer ecoar uma visibilidade ruidosa pelos quatro cantos do mundo. Pois, sempre haverá luz no fim do túnel, para quem acredita num mundo melhor de se viver entre homens e mulheres.

Recentemente num encontro, em Teresina, as prefeitas de municípios do Piauí anunciaram o interesse de criar um protocolo de políticas públicas para - além de viaturas lilás -, de fato, fazer o enfrentamento à violência doméstica no estado, com eficiência e efetividade a partir da realidade local. Trata-se de uma iniciativa política pertinente, para dizer um sonoro basta à violência contra as mulheres no Piauí, no Brasil e no mundo, por não se tratar de um problema social complexo de exclusividade do país.

É o momento de marchar até Brasília e gritar ao mundo: Parem já com a violência contra as mulheres! Basta de violência, de feminicídio, de sexismo, de sonhos destruídos, de filhos órfãos, de sorrisos apagados, de vozes caladas à força, de cinismo social, de genocidas livres. É preciso marchar à Brasília, não importa quão distantes estejamos. Nenhuma morte de mulheres deve nos calar nem nos esmorecer diante do monstro do machismo, porque ele não é mais forte do que o nosso repúdio.

Contudo, para não ser só mais uma ação cheia de balões coloridos - que murcham com o passar do tempo -, de cooptação política e incolor de sentidos, não basta boa vontade, ira e iniciativa política para lidar com as causas mais profundas da violência contra mulheres, que têm caráter histórico e sociocultural, ou seja, estão relacionadas ao machismo e à estrutura patriarcal na “formação e sentido da sociedade brasileira” (DARCY RIBEIRO, 1922-1997).

Nesse sentido, as prefeitas do Piauí devem se articular no estado para unir, em um só propósito, o máximo de representação de mulheres (e de homens) em todos os setores da sociedade, e se criar a marcha das mulheres contra todos os tipos de violência de gênero. E, assim, construir um movimento de mulheres emblemático, que tenha força política, propostas exequíveis, ações inteligíveis, articulações intersetoriais, legitimidade popular e repercussão mundial. Uma das propostas imediatas deverá ser exigir do governo Lula a assinatura da lei que equipara salários de homens e mulheres para a mesma função, sem qualquer tipo de exceção, visando a justiça social.  

Portanto, chega de violência contra as mulheres; de silenciar corações; de roubar vozes; de desencantar o mundo; de apagar olhares iluminados; de nos ferir por dentro e por fora. Mais do que um protocolo, precisa-se de políticas públicas de prevenção, com cultura e educação. Falta inteligência, urge uma marcha das mulheres para ir além da visão local, do pormenor e da obviedade.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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