Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Educação do campo e pedagogia da alternância

Foto: DivulgaçãoEducação no campo

 

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a pandemia da COVID-19 já afetou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países – representa 91% do total de estudantes no planeta. No Brasil, além do sofrimento com os mais de meio milhão de mortos, escancarou o caráter excludente da educação, principalmente com relação aos pobres e as escolas do campo.

Evidentemente não se reverterá um panorama assustador e conturbado na educação do país no improviso e sem formação continuada dos profissionais da educação para, minimamente, superar o conformismo com os portões fechados e estudantes fora das escolas, sobrevivendo apenas com “aulas terremotos”, kit merenda escolar e o descaso com as condições de acesso às tecnologias para acompanhar o ensino remoto. Nas escolas (educação) do campo, a situação é mais grave, preocupante, específica e perversa.

De acordo com Roseli Salete Caldart (2002), a educação do campo é a educação formal oferecida à população do campo. Trata-se de um fenômeno social constituído por aspectos culturais, políticos e econômicos, compreendendo a Educação Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação Profissional Técnica de nível fundamental, para o atendimento às populações campesinas em suas mais variadas formas de produção da vida (Resolução CNE/CEB nº 02 de 28/04/2008, art. 1º).

No contexto da educação do campo temos a Pedagogia da Alternância que surgiu como um método que busca a interação entre o estudante que vive no campo e a realidade vivenciada em seu cotidiano, de forma a promover a troca de conhecimentos entre seu ambiente de vida, de trabalho e o escolar.

Os instrumentos metodológicos da Pedagogia da Alternância surgiram, como modelo de educação, entre as duas guerras mundiais do século XX, por volta de 1935, na França, com o objetivo de formar integralmente o jovem do campo nos aspectos socioemocional, intelectual e profissional, tendo como princípio uma abordagem metodológica que não nega a autonomia dos sujeitos, estimulando o desenvolvimento de valores positivos – p.ex. iniciativa própria, criatividade individual, trabalho em equipe, senso de responsabilidade, cooperação, solidariedade etc.

É uma prática influenciada pelas Casas Familiares Rurais e a Escola Família Agrícola de “invenção e implementação de um instrumental pedagógico que traduz, nos seus atos, o sentido e os procedimentos da formação” (Silva, 2003; Queiroz, 2004; Gimonet, 2007; Nascimento, 2005; Ribeiro, 2008).

É uma proposta pedagógica e metodológica que 1) permite as ações serem refletidas no grupo; 2) o diálogo como instrumento de participação; 3) uma proposta pedagógica assumida pelos diversos segmentos da organização curricular e modalidades de ensino voltadas à realidade dos jovens e adultos trabalhadores que têm o campo como espaço de vida, trabalho e produção cultural; 4) visa construir uma relação maior, inclusive de intervenção concreta na realidade local de cada localidade; 5) a pesquisa é um elemento fundamental no processo de formação do professor, como uma das formas de apreensão da realidade e por permitir o diálogo entre seus atores (construção coletiva).

Nesse sentido, a Pedagogia da Alternância é uma nova modalidade de organização do processo de formação dos jovens agricultores que não veio do pensamento acadêmico, mas que pode ser fortalecida e consolidada na prática escolar da educação do campo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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