Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Descaso, sujeira e aguapés

Foto: Sâmia MenezesA vida dos pescadores do Poti (1)
Rio Poti, Teresina, Piauí 

Anualmente, celebramos a apatia de parte da sociedade e o descaso dos governantes com trágico fenômeno ambiental do alto nível de poluição do Rio Poti - um rio brasileiro que banha os estados do Ceará e Piauí -, durante o tradicional BR-Ó-BRO – período de maior intensidade de calor -, em Teresina. É o surgimento de um “tapete de aguapés floridos”, causando danos irreversíveis a vida aquática do rio e outros impactos socioambientais em toda a cadeia do ecossistema.

Assim como o Rio Parnaíba, o Rio Poti morre lentamente com a ausência de políticas públicas governamentais – estaduais, municipais e federal -, o não tratamento de esgotos de empresas e residências próximas, a dragagem do rio, a falta de gerenciamento ambiental público, a contaminação com rejeito de minério de ferro no Ceará, o lixo depositado pelos moradores das imediações ao longo da extensão do rio – pois todos os munícipes das cidades por onde o rio passa, não somente em Teresina, têm sua parcela de culpa nesse desastre ambiental - que retira  o oxigênio das águas do rio. 

A grande quantidade de aguapés - plantas aquáticas flutuantes - é uma evidência de que a água está poluída e o rio agoniza à beira da morte. Ressalte-se que os aguapés em pouca quantidade são benéficos ao ambiente aquático. Porém, a poluição despejada pela população e os descasos governamentais transforma o espelho d’água do Rio Poti num tapete verde e fétido, formada por milhares de aguapés. 

Politicamente, os poderes públicos – federal, estaduais e municipais - não têm como prioridade de governo nem de Estado a preservação dos rios que formam a “mesopotâmica Teresina”. Anualmente, os aguapés sufocam o Rio Poti, impedindo a vida de outras plantas e peixes, prejudicando a fauna, a flora, os pescadores e demais ribeirinhos.

Socialmente, além dos impactos ambientais irreversíveis provocados pelo excesso de aguapés, a poluição no Rio Poti escancara para os teresinenses um dos motivos, ignorado pelos poderes públicos, para o desastre: o lançamento de esgoto sem tratamento de empresas e residências, principalmente na área afetada. É de conhecimento público o descarte irregular de resíduos no Rio Poti, sem licença ambiental nem um plano de reparação dos danos causados ao meio ambiente.

Economicamente, com o objetivo de atacar trabalhadores e desviar a atenção dos verdadeiros fatores da poluição no Rio Poti, os vendedores de plantas e flores nas suas margens – que há mais de 15 anos trabalham ali – foram apontados como um dos vilões. A acusação em nada ajuda e perde-se uma oportunidade para se juntar àqueles trabalhadores e revitalizarem a área urbana que margeia o rio, unindo de forma inteligente trabalho, renda e preservação ambiental.

Da perspectiva técnica, no Piauí, existem profissionais qualificados e instituições públicas – UFPI, UESPI, IBAMA, IFPI - capazes de apresentar respostas socioambientais inteligíveis para debelar a poluição no Rio Poti. Todavia, por não ser uma prioridade de governos nem de Estado, os poderes públicos há anos se omitem do diálogo institucional para se esquivarem das responsabilidades sobre os fatores poluentes e mercantilizarem as soluções. 

O Rio Poti ainda não está morto, mas morrerá, em breve, se não o tornar uma prioridade de governos e de Estado; se não enfrentar as causas da poluição; sem uma conscientização ambiental; sem um modelo de gerenciamento ambiental; sem ações para revitalização; se o descaso vencer a indignação; se a omissão política calar a sociedade; se a vontade política sucumbir ao capital.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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