Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A violência escolar

Foto: ReproduçãoA violência escolar
A violência escolar

Os últimos episódios trágicos corridos em espaços escolares no Brasil, além de provocar dores e sofrimentos na sociedade, reativou o debate sobre um velho fenômeno (problema) social que é a violência no cotidiano da escola, agravada pela retração da segurança comunal e derrubada dos alicerces da solidariedade social, dando lugar ao “Estado da proteção pessoal” contra todas as ameaças e perigos em “tempos líquidos”, onde o “medo líquido”, por um lado, satura diariamente a existência humana e, por outro, produz lucros (ZYGMUNT BAUMAN, 2007; 2008).

A violência, não somente escolar, se propaga em todos os espaços, sentidos e direções, gerando no imaginário coletivo a representação de uma força cega, incontrolável e imprevisível, que nos obriga à sujeição, obediência ou ao revide numa guerra de todos contra todos na luta pela vida (THOMAS HOBBES, 2002).

Assim, se potencializa o medo social, como consequência do princípio de autoconservação humana, regido pelo medo que cada um tem da morte numa possível guerra. Mas, no caso do Brasil, a violência escolar é produto de práticas sociais externas à escola, para forjar a miscigenação no processo de formação do povo brasileiro – a colonização e a imigração (DARCY RIBEIRO, 2022) – cuja resolução dos conflitos ainda privilegia a força em detrimento da inteligência emocional (DANIEL GOLEMAN, 2012).

Trata-se da violência – na escola, à escola e da escola – entre alunos; contra a escola; de profissionais da escola contra os alunos; e da política contra a educação. E a cada novo episódio trágico na escola, as famílias são envoltas num misto de medo, impotência e revolta, como se fizessem parte de uma espécie macabra de dança dos perdidos num lugar desconhecido, onde têm que tatear na escuridão à procura de uma ancoragem e de sentido para a violência na escola, enquanto sinais dos tempos (SHEILA DOS SANTOS, 2002).

A violência escolar viceja em ambientes onde se opta por fechar escolas ao invés de repensar o processo educacional; se cria um policiamento escolar em vez de fazer uma escola aberta, viva, participativa e alegre; se reifica a postura acadêmica do professor que só reproduz conhecimentos estéreis; se sacraliza um ensino mecanicista para “passar no ENEM”; se nega ao aluno um cotidiano pedagógico com ludicidade, para que possa acessar os saberes e ampliar os seus referenciais de mundo, através das linguagens – escrita, musical, meditativa, cinematográfica, corporal, dramática, esportiva, religiosa (CLAIRE COLOMBIER, 1989).

 A violência escolar, que, também, se conecta aos atos violentos feitos pelos professores para atacar os alunos com o uso e abuso da autoridade, abrange a violência física, verbal, moral e digital, incluindo brigas, humilhações e castigos corporais, aos quais os jovens e adultos são expostos diariamente nos noticiários, reforçando a ideia de que a violência está fora de controle e ninguém estar a salvo nesse mundo de horrores.

Dentre os principais fatores de dinâmica da violência escolar estão a perda da função socializadora da escola, as relações entre a violência e a formação dos professores; os efeitos da violência fora da escola e o desempenho dos alunos; as relações com o contexto familiar dos alunos; o bullying etc.

Assim, conhecer e reconhecer os fatores da violência escolar é essencial rumo ao controle efetivo. Mas, é possível e necessário disseminar nas escolas, e na sociedade, uma pedagogia da autonomia, fundada na ética, no respeito à dignidade e à autonomia do educando, em que a sala de aula é um lugar de transformação social (PAULO FREIRE, 1996).

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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