Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A violência e a criminalidade no Piauí

Foto: O DiaCriminalidade

 

Para aqueles que acompanham os dados e a dinâmica da violência e da criminalidade no Brasil, no Nordeste e, especificamente, no Piauí, o crescimento de crimes violentos no estado não é surpresa por já ser esperado. Em função da permanência dos condicionantes sociopolíticos no país e o fato da segurança pública não ser prioridade na maioria dos estados. Assim, os crimes violentos continuarão crescendo e a sociedade será a principal prejudicada.

Segundo o Monitor da Violência – uma parceria do site g1, com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública: o Piauí teve o 3º maior crescimento de crimes violentos no país em 2021: de 11%. Ele foi um dos sete estados em que houve aumento nos assassinatos, latrocínios e lesão corporal seguida de morte. Enquanto no restante do país, houve redução.

De acordo com o levantamento, no Piauí, o crescimento é evidenciado pela somatória de crimes de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. Em 2021 foram 780 vítimas desses crimes, o que representa duas vidas tiradas por dia. Em 2020, no estado, foram cerca de 80 mortes a menos.

Dentre os fatores sociopolíticos se destacam: a nível nacional, a falta de efetividade do Plano Nacional de Segurança Pública de 2018, a flexibilização da posse e porte de armas de fogo e a politização partidária das polícias; a nível estadual, a ausência de Plano de Segurança Pública, a desintegração entre as ações de segurança pública nos outros estados, principalmente no nordeste do Brasil, a falta de investimentos estruturais nas polícias e de projetos sociais de prevenção à criminalidade juvenil.

Além desses fatores, no Piauí, existem, também, as ações das facções e a onda de assassinados no litoral numa guerra por territorialidade no tráfico de drogas. Entre novembro e dezembro de 2021 foram mais de 80 homicídios, especialmente em Parnaíba, que em 2020 registrou 31 mortes. Dentre as principais ações estatais, ainda no fim de 2021, a Secretaria de Segurança Pública realizou uma operação pontual e prendeu diversos suspeitos de crimes, gerando uma redução nos assassinatos na região litorânea.

Os dados do Monitor da Violência (2021) mostram a maior quantidade de mortes violentas intencionais, no Piauí, dos últimos sete anos (série histórica de 2014 a 2021, com dados de homicídios, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e infanticídio). Na capital do Piauí (Teresina), o número em 2021 foi o maior dos últimos cinco anos, com 336 mortes. Os bairros com mais registros de mortes foram Santa Maria (Zona Norte), Angelim (Sul), Centro, Pedra Mole (Leste) e Itararé (Sudeste). Ou seja, os crimes violentos estão espalhados na cidade.

No interior, depois de Teresina, as cidades com a maior quantidade de casos são: Parnaíba (19%), Piripiri (5%), Luís Correia (4%) e Picos (4%). Mas, há uma luz no fim do túnel, pois dos 224 municípios, 103 não registraram mortes em 2021.

E, para conter a crescente onda de violência no Piauí, medidas urgentes precisam ser adotadas, como estratégia para garantir o sentimento de segurança, e não o paliativo político da sensação de segurança. Destaco a revitalização de espaços públicos ociosos com projetos sociais de prevenção à criminalidade juvenil; reestruturação e despolitização das polícias; a elaboração de um plano estratégico de operações integradas; o desarmamento e a desarticulação do tráfico de drogas; a criação de um canal de participação para a sociedade civil.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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