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Economista

Acilino Madeira

Economista

A epidemia de coronavirus precipitou o fracasso do neoliberalismo

Foto: El blog de MefistófelesCapitalismo

Modelo fracassado do Brasil liberal

O pensamento liberal, sobretudo no campo econômico, com todas as ferramentas que lhes foram ofertadas pela teoria e pela política econômica neoclássica, nunca se furtou em tentar nublar a importância da filosofia política de Karl Marx em colocar a igualdade no mesmo patamar da liberdade e em seus derivados direitos na modernidade política Ocidental.

A partir dos ensinamentos de John Locke, o grande destaque na relação igualdade versus liberdade se cristalizou na defesa intransigente, pelos liberais, da propriedade privada. Assim, o capitalismo seguiu sua trilha triunfante em nome do coroamento da liberdade econômica e os pensadores socialistas, tributários da teoria marxiana, passaram a ser considerados simplesmente utópicos.

O capitalismo liberal de mercado colocou a liberdade econômica como força suprema do desenvolvimento econômico das nações. Contudo, não existe um tipo só de capitalismo. Bresser-Pereira (2011), em texto para a Fundação Getúlio Vargas, nos assegura a existência de cinco modelos de capitalismo: três modelos nos países ricos e dois modelos em países em desenvolvimento.

Nos países ricos, os modelos capitalistas são: (1) liberal-democrático (países anglo-saxões, inclui Inglaterra, EUA e Austrália); (2) social ou de concertação (países escandinavos e Alemanha); (3) modelo japonês ou de integração endógena (Japão como modelo canônico). Nos países em desenvolvimento – que são países de renda média que já completaram sua revolução capitalista e países pobres – (4) entre os primeiros distingue-se o modelo capitalista asiático (Índia, China, Coreia do Sul e assemelhados) e o (5) o modelo liberal-dependente (países como Brasil, México, África do Sul e Turquia).

Este quadro apresentado por Bresser-Pereira nos oferece a oportunidade de perceber as posições do Brasil na geopolítica internacional nos últimos vinte anos. Na crise de 2008, o Brasil já tinha dado os primeiros movimentos informais para ingressar nos BRICS (2006). É posto se afirmar a intenção ainda no governo Lula de migração do Brasil do tipo 05 de modelo capitalista para o tipo 04. Tal atitude tem como característica principal o afastamento do país do modelo liberal-dependente, ou mais precisamente dos Estados Unidos da América.

Com a derrubada do governo Dilma Rousseff, em 2016 (31 de agosto), a direita liberal adotou uma agenda de retorno integral ao modelo capitalista liberal-dependente, condição consolidada após a vitória nas eleições presidenciais de 2018 de Jair Messias Bolsonaro. Não obstante, as forças de direita brasileiras se recomporam e passaram a professar a crença no capitalismo de mercado, animada pela doutrina neoliberal, escudados pela força do capitalismo financeiro já muito bem instalado no Brasil.

Todas as análises para composição de cenários, por parte da nova classe dirigente nacional, levaram em conta a política belicosa e mentirosa de Donald Trump. O Estado brasileiro, muito malconduzido pelo Executivo Federal, ignorante das forças exógenas econômicas, pôs-se na tentativa de retirar o Brasil de suas relações e responsabilidades com os BRICs e de quebra fechou os canais de entendimento com o Mercosul.

Durante um ano na condução do governo brasileiro, Jair Bolsonaro e sua equipe não enxergaram as fraturas exposta de um país desigual, com forte concentração de renda, pequenas ilhas de prosperidade e imensuráveis bolsões de miséria. Os mais de trinta milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha de pobreza (no tempo do Betinho) emergiram novamente. O desemprego aumentou. Em dados da PNAD Continua, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,2%, atingindo, em janeiro último, 11,9 milhões de pessoas. No fechamento do ano de 2019, a taxa de informalidade na economia brasileira foi de 41,4%, a mais alta já vista, totalizando 38,8 milhões de trabalhadores e temos ainda um contingente populacional em situação de vulnerabilidade. Tal contingente não surgiu depois da pandemia do Covid-19 como argumenta Bolsonaro.

O governo brasileiro e sua equipe econômica, em ampla dissintonia com o mundo, insiste nas práticas neoliberais através da quebra do isolamento horizontal. Em simultâneo, numa fala precisa Lopez Obrador, presidente do México, afirma que a epidemia de coronavirus precipitou o fracasso do neoliberalismo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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