Por Rodrigo Vianna, jornalista, no 247
Em 2021, quando Bolsonaro bateu no fundo do poço, era comum ver previsões grandiloquentes: Lula vai ter 60% dos votos e o PT vai eleger 120 deputados, diziam os mais empolgados. Agora que Bolsonaro recupera alguns pontos nas pesquisas, vejo setores progressistas afundarem numa espécie de depressão - que também não se justifica.
Lula segue favorito e pode até vencer no primeiro turno. Mas a batalha será dura. Outro fato precisa ser avaliado com realismo: mesmo que vença em 2022, Lula não terá vida fácil no Congresso.
O orçamento secreto e a força do Centrão (que ficou mais evidente após o inchaço da bancada do PL, agora a maior da Casa) tornarão difícil o caminho para o PT e a esquerda, especialmente na Câmara.
Quantos deputados o PT vai eleger?
Quantos deputados cada bloco de forças terá na Câmara?
Segue abaixo, um ensaio, baseado em avaliação política realista e em consultas a parlamentares e assessores experientes.
Parto do princípio de que o PT, que hoje tem cerca de 55 parlamentares, terá crescimento substancial, especialmente em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em alguns estados do Nordeste (mas é preciso levar em conta que no Nordeste o PT já foi bem votado em 2018, portanto será difícil crescer muito, proporcionalmente à votação anterior). No Rio, a bancada pode ser multiplicada por 4 (mas parte de base muito baixa em 2018, quando só elegeu um parlamentar). Em Minas, a situação será mais complicada, porque falta um puxador de votos, e a tendência é estabilidade.
O experiente deputado José Guimarães (PT-CE) lembra que o voto para deputado será o primeiro na urna eletrônica. O cidadão que vai para a sessão com o 13 na cabeça, para votar em Lula, tende a apertar 13 no voto para deputado. Isso pode puxar a bancada, sim, para cima. Mas nada de euforia desmedida... A não ser que haja uma avalanche petista (o que não está no horizonte), parece razoável contar com um aumento de 50% na bancada do Partido dos Trabalhadores.
A previsão é que PSOL e PCdoB cresçam (um pouco) em relação a 2018. Boulos pode levar a bancada psolista de três para seis cadeiras em São Paulo. Mas o partido não conseguirá avançar muito fora de Rio, Rio Grande do Sul. O PSB deve ficar quase do mesmo tamanho, e o PDT (sob a condução errática de Ciro) pode encolher um pouco.
Na centro-direita, PSDB deve diminuir ainda mais. MDB tende a ficar do mesmo tamanho e PSD pode avançar.
No Centrão, a tendência é que PL passe a ser a segunda bancada na Câmara, só atrás do PT. PP e Republicanos vão crescer – em relação a 2018.
Segue uma previsão de cadeiras (entre parêntesis, sempre, a bancada eleita em 2018).
Bloco de Centro Esquerda - 170 deputados
PT – 80 (54)
PCdoB (+ PPL) – 13 (10)
PSOL – 13 (10)
PSB – 32 (32)
PDT – 23 (28)
PV – 5 (4)
REDE – 4 (1)
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Bloco de Direita/Centrão - 210 deputados
PP – 55 (38)
UB (PSL/DEM) – 40 (81)
PL (PR) – 65 (33)
Republicanos (PRB) - 35 (30)
PTB/PSC/Avante/Patriota/nanicos direita - 15 (45)
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Bloco de Direita Liberal - 103 deputados
PSD – 43 (35)
MDB – 35 (34)
PSDB – 20 (29)
Cidadania (PPS) – 5 (8)
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Outros – 30 deputados
Solidariedade 13 (13)
Novo - 5 (8)
Podemos - 12 (11)
Total - 513
Os números indicam que o bloco de centro-esquerda só terá chance de eleger presidente da Câmara (e quebrar a hegemonia de Arthur Lira), se fechar um acordo com partes do que chamei de Bloco de Direita liberal (PSD e MDB, principalmente).
Ainda assim, há o risco de Lula, se ganhar, ter pela frente um presidente da Câmara ligado ao Centrão, que deve eleger mais de 200 deputados.
P.S: sobre esta temática o pensarpiauí já publicou:
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