Pensar Piauí

MARINALVA FALA SOBRE CONQUISTAS E DESAFIOS DO MOVIMENTO LGBT

MARINALVA FALA SOBRE CONQUISTAS E DESAFIOS DO MOVIMENTO LGBT

“A bancada evangélica do Congresso é a mais medíocre que tem em termos de proposição e também a mais envolvida com corrupção”

Com uma história pautada sempre pela defesa dos direitos humanos e desde criança demonstrando responsabilidade como quando aos sete anos já tomava de conta do comércio dos pais no município de Anísio de Abreu, Marinalva Santana, hoje, é uma das militantes do movimento em defesa dos direitos de Lésbiscas, Gays, Bissexuais,Transexuais e Travestis com maior visibilidade no Piauí e até mesmo no Brasil.

Marinalva se formou em Direito, é analista do Tribunal de Justiça e uma militante consciente e instruída sobre os direitos da comunidade LGBT. Ao participar da fundação do Grupo Matizes, junto com um grupo de amigos que comungavam da mesma ideia pelo fim do preconceito, da discriminação e da violência, Marinalva contribuiu significativamente para muitas conquistas, como a regulamentação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e o reconhecimento da dupla maternidade, quando o nome das duas mães podem constar na certidão de nascimento da criança. Estes são exemplos que colocam o Piauí, como um estado pioneiro no exercício da cidadania e cumprimento dos direitos humanos.

Mas apesar destes avanços vem se maximizando um discurso de ódio, discurso de violência gratuita que parece estar se naturalizando no Brasil e para Marinalva, que já recebeu inclusive ameaça de morte via redes sociais, conter esta discriminação é um dos principais desafios do Grupo Matizes. Marinalva evidencia ainda que a postura conservadora das casas parlamentares do Brasil, principalmente de algumas bancadas evangélicas, contribui para a restrição de direitos o que representa retrocesso. “A gente vê com frequência, não sou eu quem digo, mas as pesquisas mostram, que a bancada evangélica do Congresso é a mais medíocre que tem, em termos de proposição e também a mais envolvida com corrupção. Cada vez, eles ganham mais espaço e aumenta esta tendência de conservadorismo no parlamento”, reforçou a militante.

Nessa entrevista Marinalva defende seu ponto de vista em relação a temas que vão dos bastidores da política à defesa do grupo LGBT no país, enfatizando ainda sobre as marcas fortes do machismo ea violência de gênero de outros membros do movimento LGBT. Na maioria dos casos, os movimentos LGBTs são protagonizados por homens, por isso aliderança lésbica do Matizes incomoda tanto.

Pensarpiaui: O que é Matizes?

Marinalva: Matizes é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, já com 13 anos, que tem como missão a defesa dos direitos humanos com foco mais voltado para defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travesti.

Pensarpiaui: O que significa Matizes?

Marinalva: No dicionário Aurélio significa nuances, diversidades de cores e a melhor definição é essa, uma diversidade de cores que se juntam para formar um único tom, uma única cor. Também significa arco íris.

Pensarpiaui: O Matizes tem 13 anos. Fale um pouco destes 13 anos do Matizes, enquanto instituição. Como é a diretoria? Como é composta esta diretoria? Há renovação?

Marinalva: A nossa entidade tem um estatuto prevendo uma coordenação composta por cinco integrantes e com mandato de dois anos, como Matizes é uma entidade de defesa de direitos, diferentemente de um sindicato, por exemplo, quetem caráter mais de representação de categoria, nós só temos 50 filiados, sendo que 10 atuam no dia a dia e os demais colaboram eventualmente, alguns inclusive não estão mais nem no Piauí. Há estatutariamente esta renovação, mas nós temos dificuldade de alcança-la, porque, como já disse, só 10 pessoas atuam efetivamente e só a diretoria já envolve cinco membros, então, na verdade de uns tempos pra cá nós temos nos revezado, quase sempre as mesmas pessoas na coordenação do grupo. Esta é uma missão que, às vezes, nos cansa, porque nestes 13 anos, foram muitas conquistas mas frutos de uma luta exaustiva e o mais importante no Matizes é prezar por nossa autonomia que é inegociável. Sabemos que no movimento social, às vezes, o que prejudica é a submissão das entidades aos interesses partidários. Nós temos membros filiados a partidos políticos, mas o Matizes enquanto organização do movimento social, não se submete a nenhum interesse partidário. O que pra mim é um traço fundamental nos dias de hoje.

Pensarpiaui: Essa autonomia dificulta na execução de ações do grupo?

Marinalva: Cria dificuldade porque quer queira, quer não, o fato do grupo não ter ligação partidária, não é braço de nenhum partido complica pois, por exemplo, quando vamos dialogar com algumas entidades sindicais como não somos da mesma linha partidária não há aquele olhar tão simpático como haveria se fossemos da mesma corrente.

Pensarpiaui: Há 13 anos, o que motivou um grupo de pessoas a fundar o Matizes e pensar essas questões a partir de uma organização?

Marinalva: Foi exatamente a junção de desejos e necessidade de enfrentar a discriminação, quando a gente começou a se reunir para fundar o Matizes na verdade nós vínhamos de outras militâncias, eu por exemplo, vinha do movimento estudantil, nós tínhamos gente como Maria Aires que veio do movimento sindical, tínhamos gente como o Werton e Roger que também lutavam no movimento da juventude e naquela época não tinha aqui em Teresina uma entidade para a defesa dos direitos da população LGBT. Na verdade nós éramos um grupo de amigos, que nos reuníamos com frequência na casa de alguém do grupo, sempre revezando e sempre discutindo essa questão. A maior entusiasta desta ideia era a Maria Aires, que sempre dizia que tínhamos que parar de nos reunirmos apenas para tomar cerveja e conversar, ela dizia que precisávamosde uma ação concreta, através da fundação, de uma entidade. Passamos quase um ano nesta gestão do grupo, vamos dizer assim. No início tivemos grandes dificuldades inclusive de encontrar lugar para as reuniões.

Pensarpiaui: Quem abriu portas e quem fechou portas?

Marinalva: Quem fechou eu não vou dizer, mas quem abriu foi o Sindicato dos Servidores Estaduais da Saúde; o Bartolomeu nesta época estava a frente da direção e, inclusive, enfrentou resistência, haviam diretores que não queriam que a gente se reunisse lá e, depois, o SINDSERM, quando o Pacheco foi o presidente da entidade. Foram as duas que nos abriram as portas, mas tivemos muitas portas fechadas, mas que não vale a pena ficar dizendo.

Fonte: Pensar Piauí

ÚLTIMAS NOTÍCIAS