Política

Wellington Dias escreve sobre Francisca Trindade

Conheça aqui o prefácio escrito por Wellington Dias sobre Trindade para livro da jornalista Dina Magalhães


Foto: DivulgaçãoWellington Dias e Trindade
Wellington Dias e Trindade

A jornalista Dina Magalhães esta finalizando uma obra sobre a ex-deputada Francisca Trindade falecida em 26 de julho de 2003. Um livro (Eternamente Trindade) sobre a vida e carreira política da petista.

O prefácio do livro, atendendo a pedido da autora, é de autoria do atual ministro Wellington Dias correligionário de Trindade. O pensarpiaui publica agora, com exclusividade, o que Dias escreveu sobre sua companheira de PT

UMA MULHER QUE FEZ A DIFERENÇA  

Conheci Francisca Trindade ainda uma garota nos seus 13 ou 14 anos, já sempre muito inteligente, muito ativa, simpática e alegre. Ela tornou-se uma liderança de bairro num momento em que tinha uma área por regularizar naquela região da Água Mineral, zona Norte de Teresina, que em seguida foi feita uma homenagem a ela. Hoje é o bairro Francisca Trindade. Depois ela se revelou uma lenda política extraordinária. Alguém que foi capaz de em conjunturas difíceis construir uma grande história.  Uma pessoa de uma família pobre que, apenas pelo mérito de seu trabalho, alcançou a condição de uma vaga de suplente de vereador. Na verdade, eu fui eleito e ela suplente.  

Ela veio trabalhar comigo como chefe de gabinete e em seguida foi eleita vereadora de Teresina muito bem votada. Depois eleita deputada estadual e deputada federal. É uma história de alguém muito comprometida sempre com as suas raízes: a política para mulheres, a política para os afrodescendentes, a política para as ações dos movimentos populares, ou seja, alguém que nunca abandonou suas raízes e trouxe isso para a pauta principal dos mandatos que ela assumiu.  

A sua morte precoce foi um prejuízo muito grande para o Piauí. Certamente seria alguém muito destacada no Piauí e no Brasil por tudo aquilo que construiu nesse período tão curto que ela pode estar entre nós.  

Minha relação com Francisca Trindade foi uma relação de respeito mútuo, mesmo em disputas internas dentro do Partido dos Trabalhadores. Às vezes eu tinha um determinado posicionamento e ela tinha outro, mas nunca perdemos a capacidade do diálogo. Estreitamos para uma relação de diálogo muito grande. Eu pude ali conviver com Francisca Trindade, o Dudu (seu esposo), o Ian ainda muito pequeno e com a Camila. Pude conviver junto com os meus filhos: a Iasmin, o Vinicius e com a Danielly. Uma pessoa sempre muito sensível, sobretudo, quando se tratava do olhar para a família.  

Lembro-me que Trindade tinha uma agenda muito extensa e às vezes a gente andando, ela começava a falar dos filhos, do quanto era doloroso para ela como mãe, como mulher, ter que deixar as crianças em casa para cumprir agendas às vezes de uma semana de viagens. Muitas vezes ela se emocionava quando falava disso. Ela sempre foi muito apaixonada pelos seus pais, seus irmãos. Uma pessoa muito humana. Acho que era isso que representava Francisca Trindade.  

Lembro de um fato marcante nessa relação com a companheira Trindade que eu “brigava” muito (no bom sentido) para ela parar de fumar. Foi numa fase em que o Brasil vivia uma política nacional da valorização da saúde e onde se colocou o cigarro como inimigo. E ela participava com a gente desses momentos, desses debates sobre a necessidade de se ter os avisos na carteira de cigarros, que depois se tornou política, junto com o fim das propagandas com uso de artistas, jogadores de futebol, etc.  

A Trindade tem uma história muito parecida com a de Torquato Neto. São dois jovens do Piauí que tiveram uma vida muito curta, ou seja, Deus os tirou ainda muito jovens mas deixaram uma marca extraordinária. Alguém que ia para o concreto, que ia em busca daquilo que acreditava, com muita força e determinação. Às vezes, inclusive, numa situação em que as pessoas criavam um sentimento que levava à realização. Era assim quando o Wall Ferraz era prefeito, depois com outros líderes.  

Me lembro ainda participando de agendas com ela perante o parlamento e as pessoas diziam: “é melhor a gente atender logo, viu, o que é possível, porque a Trindade não vai parar”. Então era alguém assim, sempre muito correta, uma pessoa honesta, uma pessoa que pensava nos outros até menos que nela mesma. Ficam muitas lições. Sobretudo, a lição de sim, é possível uma mulher negra vinda de uma favela chegar como ela chegou à Câmara Federal, a ser uma pessoa respeitada no Brasil inteiro, nos movimentos sociais, no movimento da moradia, principalmente.  

Destaco ainda aquilo que ela também tinha de encantador: uma pessoa que cantava, que dançava, apaixonada pela cultura, especialmente, a cultura originária da África. Com esse jeito tão peculiar ela conquistava, inclusive, as pessoas de campos políticos diferentes. Havia um carinho, um respeito muito grande. Eu vejo que ela marca a história por essa razão.  

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: