Uma UTI a serviço de politicagem inconsequente

Por Edmar Oliveira, médico, no facebook

Vejo agora no site oficial que o Hospital DF Star faz parte da conceituada Rede D’Or de hospitais. Assim fiquei ainda mais preocupado com o desvio da medicina que foi praticado em Brasília, que já merecia uma intervenção do Conselho Federal de Medicina e sua regional em Brasília.

Jair Messias Bolsonaro preparou um teatro para ser vivido dentro do UTI de um hospital. Para isso desiste do médico paulista que já conhecia o seu caso e foi internado no tal DF Star em Brasília. A partir daí vivemos um teatro, transmitido em rede nacional acontecendo dentro de uma UTI de um hospital. E não é num teatro representando um hospital, mas uma peça teatral dentro de um hospital de verdade.

E o meu queixo caiu porque ninguém contestou o fato. Nem o Conselho de Classe, nem colegas médicos, nem a imprensa que tem o dever de investigar fatos estranhos e esse é escabroso.

Numa UTI hospitalar ficam pacientes graves em acompanhamento médico intensivo, com restrição de visitas, movimentações e comedimento do paciente internado ali. Melhorado vai ao quarto ou enfermaria.

Mas não. Assistimos diariamente um teatro de uma UTI apresentado um paciente com enormes cicatrizes, vários eletrodos no tórax que raramente estão ligados a aparelhos, sonda nasogástrica pendurada ao vento para a mobilidade do paciente que começou dando voltas nos corredores no dia seguinte a uma laparotomia extensiva (laparotomia, como foi informado, é uma cirurgia às cegas, abrindo todo o abdome para encontrar o que não se sabe ainda). No dia seguinte e falando muito sai caminhando pelos corredores, uma contraindicação por levar ar ao aparelho digestivo. Na quaresma assistimos a um lava-pés de uma Michele já vestida de viúva, enquanto era o Papa quem morria. 

Depois, uma entrevista ao SBT, DENTRO DA UTI, e uma live aos seguidores. DENTRO DA UTI.

Por último a cena definitiva: câmeras posicionadas para o paciente receber uma intimação (datada desde o dia 11), com uma oficial de justiça que recebeu gritos de um Jair colérico e mandando recados para Alexandre de Moraes. Ainda de lambuja vemos gritos e esporros do seu Jair nos médicos e na equipe da UTI, como se dissesse “mando eu nesta merda!”

Por favor colegas e órgãos de classe da nossa categoria profissional! Nunca vi, em 40 anos de atividade médica, um UTI ser ESCULHAMBADA dessa maneira por estar a serviço de politicagem inconsequente. Um hospital foi colocado à vontade política de um ex-presidente da República de uma maneira escandalosa. 

O STF também participou do teatro. Por que Alexandre de Moraes manda intimar uma pessoa internada numa UTI? Não é local. Mesmo que seu Jair tenha esculhambado a rotina hospitalar, não era lugar para se mandar uma oficial de justiça pra ser esculachada na internet, na arapuca montada por seu Jair.

Como um hospital se prestou a uma deformação destas? Nossa medicina está muito doente. O pior é não ter pra quem reclamar, se o nosso Conselho sofre da mesma doença.

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