Política

Themístocles e a oportunidade perdida de calar

No Piauí políticos menores como Themístocles Filho e Henrique Pires entraram na onde de Bolsonaro

  • domingo, 29 de março de 2020

Foto: TV NilsPerdeu uma boa oportunidade de continuar no isolamento
Perdeu uma boa oportunidade de continuar no isolamento

No momento em que o País – inclusive o Piauí – entra na terceira semana de quarentena ou isolamento social, com o funcionamento comercial de apenas alguns setores estratégicos, como supermercados, farmácias e postos de gasolina, a onda negacionista liderada pelo presidente Jair Bolsonaro parece ter arrefecido. As circunstâncias foram mais fortes. O crescimento exponencial do número de casos da COVID-19, chegando a quatro mil pessoas, e a notícia da primeira morte no Piauí provocaram meio que um choque de realidade.

Isso eclipsou personagens como o próprio Bolsonaro, que resolveu desaparecer dos flashs, câmeras e microfones, após uma série de sandices ditas em sequência, publicamente, em cadeia nacional de rádio e TV e entrevistas à imprensa. Junto aos portões do Palácio da Alvorada, repetindo o deprimente ritual protagonizado por ele, todos os dias, fez mais uma de suas infinitas declarações infelizes, se referindo ao brasileiro em geral como alguém que mergulha no esgoto e não pega “nada”, já desenvolveu anticorpos até para o coronavírus.

Depois disso, o presidente “sumiu”, nas dependências dos palácios da Alvorada e do Planalto, em reuniões, talvez, onde provavelmente teve a oportunidade de avaliar a gravidade de sua atitudes até agora, como presidente da República, agravando a crise provocada pela pandemia. Pode também ter servido para levar a algum tipo de reflexão, no Piauí, políticos menores, como os deputados estaduais Themístocles Filho, presidente vitalício da Assembleia Legislativa, e Henrique Pires, ambos do MDB, embalados na onda bolsonarista.

Fim do isolamento?

A dupla fez declarações à imprensa local, pressionando o governador Wellington Dias. Ambos, certamente representando setores econômicos, querem acabar com o isolamento social no Piauí e normalizar atividades, como lojas de conveniência, clínicas médicas, odontológicas, restaurantes, lanchonetes, etc. Escritórios de advocacia e contabilidade entram igualmente na lista infinita de Themístocles, que abrange construção civil (obras), materiais de construção e autopeças. Tem mais.

Os parlamentares inseriram no rol de atividades a serem normalizadas oficinas mecânicas, borracharias, indústrias e agroindústria. Ou seja, o que eles querem é, na prática, quase o fim da quarentena, do isolamento social, a implantação do vertical, que deixa os idosos e doentes crônicos em casa, e libera a massa de trabalhadores para labutar, usar os meios de transporte coletivo, circular por todos os lugares e tudo o mais. Ao menos, esses deputados não tiveram o desatino de reivindicar, junto ao governador, o retorno das aulas.

Absurda, a proposta dos deputados parece ter sido ignorada pelo Palácio de Karnak, sabendo que o buraco é muito mais embaixo, e não há a menor possibilidade de quebrar o isolamento horizontal, a quarentena, neste exato momento do processo. A questão primeira – e isso é óbvio – é salvar o máximo possível de vidas, reduzir a intensidade do contágio e preparar o sistema de saúde pública para uma situação de guerra, a exemplo do Ginásio Verdão, que se transformará num hospital de campanha com 100 leitos. A economia vem depois.

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