Política

Tábata e direita: interesses revelados no debate da Record

A deputada busca se posicionar como uma candidata viável e alternativa da centro-direita nas próximas eleições presidenciais


Agência Brasil Tábata e direita: interesses revelados no debate da Record
Tábata Amaral

No debate realizado pela Record TV, no último sábado, a deputada federal Tábata Amaral (PSB) adotou uma postura que deixou clara sua estratégia de se distanciar da esquerda progressista e pavimentar seu caminho para a disputa presidencial de 2026. Ao atacar Guilherme Boulos (PSOL), Tábata explorou temas sensíveis como aborto, descriminalização das drogas e a questão da Venezuela, em uma tentativa de atrair eleitores moderados e conservadores. Sua postura aponta para uma mudança calculada em sua trajetória política, com o objetivo de se posicionar como uma candidata viável e alternativa da centro-direita nas próximas eleições presidenciais.

O foco de Tábata no ataque a Boulos, candidato de esquerda mais bem colocado nas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, não passou despercebido. Em vez de concentrar suas críticas nos candidatos alinhados à direita, como Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PROS), a deputada preferiu mirar no principal nome progressista da disputa. 

Tábata, ao questionar Boulos sobre a legalização do aborto e das drogas, ressaltou que o PSOL mantém posições que ela sugere serem incompatíveis com o cenário eleitoral atual. Ao fazer isso, ela não apenas sublinha uma suposta incoerência do adversário, mas também sinaliza sua própria posição em temas que, historicamente, são delicados para o eleitorado mais conservador. Dessa forma, Tábata parece estar construindo uma narrativa que lhe permitirá angariar apoio de um segmento do eleitorado que se identifica com pautas mais moderadas ou até conservadoras e que procura uma alternativa à direita extremada.

Essa movimentação de Tábata pode ser vista como um projeto político de longo prazo, mirando não apenas a disputa municipal, mas também a sucessão presidencial de 2026. Ao adotar uma postura mais crítica em relação a temas sensíveis à esquerda, a deputada sinaliza seu interesse em ser a porta-voz da "direita civilizada" — um espaço que, atualmente, encontra-se sem uma liderança expressiva. Tábata se coloca como uma alternativa à figura extremada de Jair Bolsonaro, apresentando-se como uma voz moderada, mas disposta a manter uma agenda liberal do ponto de vista econômico.

A escolha de seus doadores de campanha também reforça isso. Entre os principais financiadores de sua campanha estão nomes como Edson Queiroz Neto, empresário do setor industrial, Guilherme Leal, um dos fundadores da Natura, e Cândido Bracher, ex-CEO do Itaú. Esses apoios demonstram que Tábata já possui um alinhamento com grandes setores do empresariado, grupo que tende a favorecer candidatos com uma agenda econômica liberal, voltada para o fortalecimento do mercado e menos dependente de políticas públicas de distribuição de renda.

A trajetória recente de Tábata é marcada por contradições em relação ao discurso que a projetou inicialmente como uma jovem liderança progressista. Em sua atuação na Câmara dos Deputados, um dos momentos mais controversos foi seu voto favorável à reforma da Previdência, que foi amplamente criticada por dificultar o acesso à aposentadoria pública e beneficiar o mercado financeiro. A reforma foi vista como um ataque aos direitos trabalhistas e sociais.

Com esse histórico, e agora com sua postura no debate municipal, Tábata vai se consolidando como uma figura que deseja ocupar o espaço deixado por uma "direita civilizada",  e busca se desvincular da retórica beligerante de figuras como Jair Bolsonaro. Ao adotar uma postura crítica em relação à esquerda, ela aposta em atrair eleitores que rejeitam tanto o bolsonarismo quanto o lulismo, ocupando um nicho que busca alternativas ao atual cenário polarizado.

A aposta de Tábata é clara: ao atacar Boulos e se distanciar das pautas tradicionais da esquerda, ela busca abrir caminho para disputar a Presidência em 2026 como uma candidata que pode representar a centro-direita, sem a radicalização característica de figuras como Bolsonaro, mas com uma agenda econômica liberal e um discurso que possa agradar ao eleitorado conservador em temas morais e sociais. Nesse cenário, o debate municipal é apenas o primeiro passo em uma estratégia muito maior, que visa colocá-la no centro da política nacional nos próximos anos.

Portanto, ao criticar Boulos, Tábata Amaral não está apenas mirando a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Ela está lançando as bases para seu futuro político, com os olhos postos em 2026, quando poderá se apresentar como a candidata da centro-direita, com o respaldo de grandes empresários, uma agenda econômica liberal e um discurso voltado para conquistar o eleitorado de direita.

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