Se o socialismo é para ser igual ao capitalismo, para que socialismo?
O socialismo da China em questão

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook
O Ministério Público do Trabalho resgatou 163 trabalhadores em condições análogas à escravidão, na obra de construção da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia.
A BYD é chinesa. A empreiteira, Jinjiang, é chinesa. Os trabalhadores submetidos às condições de escravidão também são chineses.
Nota do Ministério Público do Trabalho, sobre a obra da BYD em Camaçari: “As condições encontradas nos alojamentos revelaram um quadro alarmante de precariedade e degradância. No primeiro alojamento da Rua Colorado, os trabalhadores dormiam em camas sem colchões, não possuíam armários para seus pertences pessoais, que ficavam misturados com materiais de alimentação. A situação sanitária era especialmente crítica, com apenas um banheiro para cada 31 trabalhadores, forçando-os a acordar às 4h para formar fila e conseguir se preparar para sair ao trabalho às 5h30”.
Os operários eram descritos como “consultores”, uma vez que dificilmente o Brasil concede vistos para trabalhadores não especializados.
Fico pensando qual a taxa de exploração a que eles estavam sendo submetidos, para que, para as empresas, valesse a pena importar tantos trabalhadores da China.
Segundos todas as informações disponíveis (de relatos jornalísticos a pesquisas de sociólogos e economistas), as condições de trabalho na China são espantosas.
Direitos que por aqui são assegurados há décadas, como descanso remunerado, ainda não vigoram. Trabalhadores “ilegais” - devidos às regras de migração interna - são submetidos a condições ainda piores.
São conhecidos os relatos de operários de grandes marcas ocidentais, como a Apple, se suicidando por exaustão e desespero.
A feroz repressão contra qualquer movimento contestatório dificulta a mobilização por direitos.
Mas, na esquerda brasileira, não falta quem louve a China como “o socialismo do século XXI”.
Sim, o crescimento econômico é espantoso.
Mas feito às custas de superexploração do trabalho e devastação ambiental. Levando a uma sociedade centrada na competição permanente de todos contra todos e voltada para o consumismo.
É isso o “socialismo”? A diferença do “socialismo”, então, é a gestão abertamente autoritária da vida política, por Xi Jinping e seus homens?
Sim, seus homens. Não existe nenhuma mulher na cúpula do PC e do Estado chineses. Igualdade de gênero? Certamente um desvio pequeno-burguês.
Alguém vai vir aqui e falar das condições horripilantes de trabalho no mundo capitalista: no Brasil, no Paraguai, na Índia, nos Estados Unidos.
É verdade. Mesmo na civilizada Europa. Sabe a garrafa de champagne francesa, que você economizou o ano todo para poder brindar no Ano Novo? Foi produzida de maneira similar aos espumantes da serra gaúcha: com trabalhadores em condições indignas.
Mas em que isso livra a cara da China?
Se o socialismo é para ser igual ao capitalismo, para que socialismo?
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