Por que Bolsonaro resiste ao nome de Tarcísio para presidente?
Há uma razão relevada agora, mesmo quase condenado e preso, para o ex-presidente dar desculpas por onde passa para não apoiar o governador de SP na eleição ao Planalto

Por Henrique Rodrigues, jornalista, na Fórum
Quem acompanha o noticiário político diariamente e com atenção nos últimos anos sabe que é mais do que óbvio que o principal nome colocado na posição de substituto de Jair Bolsonaro (PL) é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Não foi à toa que ele se cacifou como o ministro mais poderoso e preservado durante o caótico mandato de presidente do líder da extrema direita brasileira, sendo escolhido para disputar o Executivo do estado mais rico e poderoso do país.
Mas o mesmo sujeito que percebe tal obviedade também nota algo estranho e ruidoso, aparentemente paradoxal, quando vê Bolsonaro sempre dar desculpas esfarrapadas para desconversar sobre a possibilidade de Tarcísio disputar o Palácio do Planalto em 2026, contra Lula (PT), ocupando o vácuo deixado pela inelegibilidade e quase condenação à cadeia do ex-presidente.
“Ainda é muito cedo”, “ele nem tem toda essa experiência” e “ele é um político bom, mas não excepcional” são algumas das alegações disparadas com um sorriso amarelo e incômodo por Bolsonaro quando questionado sobre o fato de estar fora da próxima disputa nas urnas e precisar anunciar um nome para herdar seu gigantesco patrimônio eleitoral.
Num primeiro momento, é bastante lógico perceber que para uma figura como Bolsonaro, um sujeito barulhento, autoritário, ególatra e mandão, estar de fora já é uma imensa derrota. Ele pretende insistir, mesmo se estiver na prisão, no registro de uma candidatura, que só seria indeferida definitivamente por volta de três meses antes da data marcada para a eleição, algo que faria um estrago imenso na campanha da extrema direita. Só que o ex-presidente não desdenha de Tarcísio e fica colocando empecilhos no caminho de sua escolha apenas por isso.
Bolsonaro já andou dizendo pelos corredores de Brasília que sabe muito bem que tipo de político e pessoa é Tarcísio de Freitas. Embora fidelíssimo e leal ao padrinho, que praticamente o pariu para o Brasil, o governador carioca de São Paulo mesmo nunca contrariando as palavras absurdas e grotescas do “chefe”, não hesitaria em se descolar do bufão extremista e gritalhão se chegar o posto de presidente. Não que Tarcísio não seja também um extremista que aplaude e endossa a barbárie bolsonarista, mas por ser um homem que já está afinando os instrumentos para falar a língua do “mercado”.
Sim, o bárbaro de sapatênis é o sonho de consumo dos endinheirados que dão as cartas no universo econômico brasileiro e está sendo carregado no colo para cima e para baixo até pelos grupos de comunicação que foram massacrados por Bolsonaro, como é o caso da Folha de S.Paulo. Tarcísio gosta de um discurso sobre matar pobres, curte muito uma higienização social e se empolga ao bajular e aplaudir militares golpistas, mas está se sentindo muito melhor com os afagos dos magnatas.
Numa eventual presidência de Tarcísio, o rosário de asneiras abestalhadas de Bolsonaro não teria vez. O ex-presidente já está dizendo que o “futuro presidente” não aceitaria suas ordens sobre quem nomear e quem escolher, tampouco se curvaria a ele para receber “orientações” em relação a como governar. Na prática, Bolsonaro tem certeza absoluta de que será colocado para escanteio e que em pouco tempo, com apoio massivo da imprensa hegemônica e do Congresso, Tarcísio não precisaria dele para nada. Isso sem contar que o carioca em pouco tempo absorveria grande parte do eleitorado radicalizado do “mito”.
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