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Parlamentares recebem R$ 100 mi em reembolsos médicos mesmo com planos de elite

Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e cruzados com informações do Portal da Transparência.


Reprodução/Danilo Verpa/Folhapress Parlamentares recebem R$ 100 mi em reembolsos médicos mesmo com planos de elite
Parlamentares reembolsam R$ 100 mi mesmo com planos de elite

Deputados federais e senadores brasileiros receberam mais de R$ 100 milhões em reembolsos médicos nos últimos seis anos, apesar de contarem com planos de saúde de alto padrão e acesso à ampla rede privada hospitalar. A informação foi revelada em levantamento do portal UOL, que também aponta falta de transparência na divulgação desses gastos pagos com recursos públicos.

Entre fevereiro de 2019 e abril de 2025, a Câmara dos Deputados desembolsou R$ 39,7 milhões em reembolsos médicos, beneficiando 584 parlamentares. Já o Senado gastou R$ 60,8 milhões no mesmo período. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e cruzados com informações do Portal da Transparência.

Reembolsos sem limite prático

Na Câmara, não há um limite de solicitações de reembolso, embora cada nota fiscal tenha um teto individual de R$ 135,4 mil — valor reajustado em março de 2021, por decisão do então presidente Arthur Lira (PP-AL). O aumento foi de 170%, sob justificativa de “inflação médica”, apesar de o IPCA ter acumulado apenas 32% no mesmo intervalo.

Mesmo com acesso a hospitais de referência como Sírio-Libanês, Albert Einstein, DF Star e Rede D’Or, parlamentares optaram por tratamentos reembolsáveis. O plano da Câmara exige coparticipação de 25% a 30%, com descontos mensais que podem chegar a R$ 800.

Entre os maiores beneficiados está a ex-deputada Tereza Nelma (PSD-AL), que enfrentou um câncer nos últimos 12 anos. Ela afirma que não recebeu os valores diretamente, pois a Câmara pagou o hospital: “Se não tivesse o apoio que recebi, talvez não estivesse agora respondendo seu e-mail”, disse.

O deputado Damião Feliciano (União-PB) teve R$ 1,7 milhão reembolsado, mas não respondeu ao UOL. A família do ex-deputado José Carlos Schiavinato (PP-PR), morto por Covid-19 em 2021, recebeu R$ 1,6 milhão por despesas com tratamento no Sírio-Libanês — que, na época, estava fora da rede conveniada.

Outros nomes com reembolsos expressivos incluem:

  • Célio Moura (PT-TO): R$ 875,9 mil

  • João Campos de Araújo (Republicanos-GO): R$ 767 mil

  • Nilson Pinto (PSDB-PA): R$ 735 mil

  • Elcione Barbalho (MDB-PA): R$ 698 mil

Célio Moura justificou os gastos com um acidente que vitimou seu irmão em 2021, afirmando que não havia leitos disponíveis na rede pública por causa da pandemia. Nilson Pinto relatou ter ficado 35 dias internado no Hospital Sírio-Libanês por uma infecção grave, e que os reembolsos seguiram a legislação vigente.

Jair Bolsonaro (PL), então deputado, foi ressarcido em R$ 435,3 mil por tratamentos relacionados ao atentado sofrido em Juiz de Fora em 2018. “De 1991 até 2018, pelo que me lembro, nunca usei o serviço de saúde da Câmara”, afirmou.

Senado: plano vitalício e cobertura total

No Senado, os benefícios são ainda mais amplos. O plano de saúde oferece cobertura vitalícia não só aos 81 senadores em exercício, como também a 190 ex-parlamentares e 126 cônjuges — incluindo viúvas, que podem solicitar reinclusão.

Entre 2019 e 2024, os gastos com reembolsos chegaram a R$ 60,8 milhões. Diferente da Câmara, os senadores não têm coparticipação, e a mensalidade é integralmente bancada pelo orçamento público. As solicitações são ilimitadas, mas os valores reembolsados seguem uma tabela interna.

Falta de transparência

Tanto Câmara quanto Senado impõem restrições à transparência desses gastos. A Câmara alega que não pode divulgar detalhes sobre os procedimentos e hospitais por “sigilo médico” e proteção de dados. O Senado é ainda mais opaco: não divulga sequer os nomes dos parlamentares beneficiados.

Em 2021, o Partido Novo acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar a falta de clareza nos dados. No entanto, em abril deste ano, o TCU concluiu que cabe à própria Câmara conduzir auditorias internas, caso haja suspeita de irregularidades.

O que dizem Câmara e Senado

A Câmara afirma que só reembolsa despesas de parlamentares ativos, com autorização da Mesa Diretora. Procedimentos estéticos, experimentais e despesas com acompanhantes são proibidos, mas casos excepcionais permitem ressarcimento no exterior.

O Senado declarou que todos os pedidos passam por análise técnica, com base em laudos médicos e em conformidade com tabela oficial. Também admite internações no exterior e uso de UTI aérea, quando indicado.

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