Política

Os bastidores da negociação que salvou o mandato de Glauber Braga

Em 60 dias, tudo pode mudar


Reprodução Os bastidores da negociação que salvou o mandato de Glauber Braga
Muitos contribuiram para o fim da greve de Glauber

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) encerrou, na tarde desta quinta-feira (17), a greve de fome que mantinha há nove dias em protesto contra a decisão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que recomendou a cassação de seu mandato. O fim do protesto foi anunciado após um acordo com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que se comprometeu a não levar o caso ao plenário antes de 60 dias, mesmo após a deliberação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

“Garanto que, após deliberação da CCJ, qualquer que seja ela, não submeteremos o caso do deputado ao Plenário da Câmara antes de 60 dias, para que ele possa exercer a defesa de seu mandato parlamentar”, afirmou Motta em publicação nas redes sociais. O acordo foi firmado em diálogo com a deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e o líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ).

Glauber entrou com recurso à CCJ para tentar reverter a decisão do Conselho de Ética. Caso o recurso seja aceito, o processo retorna ao Conselho e pode haver substituição do relator — especialmente se o atual, Alexandre Leite (União-SP), não for reconduzido na próxima composição do colegiado, prevista para a semana que vem. “Se a CCJ apontar, por exemplo, algum tipo de vício na punição sugerida pelo relator, poderia haver a indicação de um novo”, explicou o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ).

Nos bastidores, o recuo da Mesa Diretora foi atribuído a uma mudança de clima político na Câmara. Um assessor parlamentar relatou que Glauber recebeu apoio incomum de setores da direita e até de integrantes do Centrão e do bolsonarismo, alguns dos quais o visitaram pessoalmente durante o protesto ou fizeram pronunciamentos públicos em sua defesa. “Houve uma mudança mesmo de sensibilidade, tanto do conjunto da Câmara quanto, principalmente agora, do Hugo Motta. Ele mostrou que não é do interesse dele que o Glauber seja cassado”, disse.

A mediação contou com envolvimento direto da ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann (PT), que visitou o deputado no acampamento montado no Anexo II da Câmara no último sábado (12). A articulação foi conduzida com discrição, para evitar atritos com lideranças do centrão, que têm liderado o movimento pela cassação. Outros sete ministros do governo Lula também estiveram com o parlamentar ao longo da greve, em sinal de apoio e preocupação com a situação.

A suspensão do processo por 60 dias adia a votação em plenário para o segundo semestre, dando margem para a construção de uma alternativa à cassação, como advertência ou suspensão temporária do mandato. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que também atuou nas negociações, elogiou a postura de Hugo Motta: “Ele agiu como um presidente da Câmara deve agir: mediando, o que é diferente de ‘fazer média’, para distensionar. Agora teremos dois meses para fazer o que os que querem cassar Glauber nunca fizeram: argumentar contra essa pena capital por vingança política”.

O processo contra Glauber Braga teve início em abril de 2024, quando o deputado reagiu com um chute a um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) que o havia ofendido no interior da Câmara dos Deputados. O episódio ocorreu em um momento delicado para o parlamentar, cuja mãe estava internada e veio a falecer 22 dias após o ocorrido. A recomendação de cassação por agressão física é inédita na história recente da Casa.

Após encerrar a greve de fome, o deputado foi encaminhado para um hospital em Brasília, onde passará por reavaliação médica. Segundo sua assessoria, ele perdeu cerca de cinco quilos durante os oito dias em que se alimentou apenas de água, soro e isotônicos. A reintrodução de alimentos será feita de forma gradual, iniciando por dieta líquida para evitar riscos à saúde.

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: