O traíra Hugo Motta tenta justificar mudança de comportamento
Na verdade ele é um serviçal do capital financeiro e da elite empresarial

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), selou seu rompimento político com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após meses de gestos públicos em favor da conciliação institucional. A guinada foi marcada por ataques ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF), num movimento que, embora atribuído à insatisfação de parlamentares com o ritmo da liberação de emendas, esconde pressões mais profundas e estruturais: as do capital financeiro e da elite econômica, incomodados com a política fiscal do governo.
Um dos marcos dessa inflexão foi a decisão de levar ao plenário da Câmara o cumprimento da ordem do STF que determinou a perda de mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada por incitar os atos golpistas de 8 de janeiro. Apesar de inicialmente prometer cumprir a decisão judicial por meio da Mesa Diretora, Motta recuou e transferiu a responsabilidade ao conjunto dos deputados. A estratégia, segundo aliados, seria dividir o desgaste político em um momento de forte corporativismo no Legislativo.
Outro gesto simbólico veio com a inclusão na pauta de um requerimento do PL que tenta barrar o processo penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), acusado de integrar uma rede de milícias digitais. Embora a Primeira Turma do STF tenha autorizado o andamento da denúncia, o gesto foi lido como provocação à Corte e sinal de alinhamento às bancadas conservadoras.
O afastamento de Motta em relação ao Executivo se intensificou após o governo editar medidas que elevaram tributos, como o IOF, e anunciar outras ações fiscais criticadas pelo setor empresarial. O deputado fez coro às críticas do mercado: “Já comuniquei à equipe econômica que as medidas que estão preanunciadas terão reação muito ruim não só dentro do Congresso, mas também no empresariado”, declarou. Ele também procurou demarcar distância política do Planalto: “Não sirvo a projeto político de nenhum governo”.
A tensão atingiu um novo patamar após uma entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em que o chefe da equipe econômica sugeriu que a responsabilidade pelo equilíbrio fiscal dependia da ação do Congresso. A avaliação irritou parlamentares e acelerou o distanciamento de Motta, que passou a adotar abertamente o discurso do empresariado e do setor financeiro.
Outro foco de desgaste é a questão das emendas de comissão. Por decisão do STF, o mecanismo agora exige a identificação dos parlamentares responsáveis por cada destinação orçamentária — o que desagrada congressistas acostumados à opacidade. Em 2025, menos de 0,2% do total autorizado em emendas (R$ 85,7 milhões de R$ 50,4 bilhões) foi efetivamente empenhado.
A agenda de Motta também se alinha aos interesses do grande varejo. Ele decidiu pautar um projeto de decreto legislativo que revoga uma portaria do Ministério do Trabalho exigindo acordo coletivo para o trabalho aos domingos e feriados no comércio sem pagamento adicional. A iniciativa, articulada com o partido Novo, atende diretamente aos grandes grupos do setor.
A retórica de que o rompimento se deu por “pressão dos deputados” parece esconder uma realidade mais ampla: a articulação do poder econômico e das bancadas conservadoras para conter o avanço de políticas redistributivas promovidas pelo governo Lula. Ao se afastar do Planalto e confrontar o STF, Hugo Motta se consolida como uma liderança legislativa vinculada aos interesses do mercado, mesmo tentando preservar a imagem de articulador institucional e moderado.
Apesar de manter o discurso de que seguirá buscando o diálogo, suas ações recentes indicam o oposto — uma liderança que atua como freio aos projetos do Executivo, em nome da estabilidade do mercado e da proteção a setores da elite política.
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