Política

“O Lula é analógico num tempo digital”, disse o apoiador de Jair Bolsonaro

Veja o resumo da entrevista de Ciro Nogueira a Igor Gadelha


Reprodução “O Lula é analógico num tempo digital”, disse o apoiador de Jair Bolsonaro
Ciro Nogueira, Bolsonaro e Lula

Em entrevista concedida ao jornalista Igor Gadelha, do Metrópoles, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos articuladores da federação entre PP e União Brasil, falou sobre os objetivos políticos da nova aliança, sua relação com o governo Lula, os rumos da direita brasileira para 2026 e defendeu mudanças na condução política e econômica do país. Segundo ele, a federação, batizada de União Progressista, será um “dique de proteção à sociedade” contra medidas consideradas danosas, como aumento de impostos, mas não atuará como oposição automática. “Essa federação não é de apoio ao governo, mas também não será contra o Brasil”, afirmou.

Nogueira sustenta que a nova federação representa uma força de centro, capaz de responder ao que ele enxerga como o declínio do ciclo político do PT. Ele destaca que o Brasil vive um novo momento, em que o eleitorado majoritariamente escolheu políticos com perfil centrista nas eleições municipais de 2024, e que a federação surge como resposta a essa nova realidade. Com 109 parlamentares, 14 senadores, mais de 1.300 prefeitos e seis governadores, a aliança é, segundo ele, a maior força política do Congresso Nacional.

Apesar da federação reunir quadros com históricos distintos – como o próprio Nogueira, ex-ministro de Jair Bolsonaro, e Davi Alcolumbre, que tem boa interlocução com o governo Lula –, o senador diz que as divergências foram superadas por um projeto comum de desenvolvimento. Para ele, é hora de construir um programa de crescimento para o país que valorize a produção, o empreendedorismo e a responsabilidade fiscal, e de romper com práticas políticas ultrapassadas.

Sobre o governo Lula, Nogueira é categórico ao afirmar que o presidente “não tem sintonia com os tempos atuais” e vive “olhando para o retrovisor”. Criticou duramente propostas como a tentativa de sindicalização de trabalhadores de aplicativos e acusou o governo de insistir em políticas arrecadatórias e de expansão estatal. “O Lula é um homem analógico num tempo digital”, disparou.

Em relação ao presidencialismo de coalizão, o senador afirma que o modelo antigo, baseado em trocas de cargos por apoio político, perdeu força. Ele sustenta que hoje os parlamentares são mais fiscalizados por seus eleitores e que a base de apoio precisa ter identificação ideológica real com o Executivo, o que, segundo ele, não acontece com o atual governo. Ainda assim, afirma que a federação não deve ser tratada como um bloco de oposição, e que pode apoiar medidas do governo se forem boas para a economia e a população.

Nogueira também comentou os desdobramentos internos da federação. Admitiu que há divergências em alguns estados, como Bahia, Pernambuco e Acre, mas defende o diálogo e a superação de projetos individualistas. Ele acredita que, com o tempo, a federação poderá atrair ainda mais deputados, chegando a até 150 parlamentares com a abertura da janela partidária.

Ao tratar das eleições presidenciais de 2026, Nogueira reafirmou seu compromisso com Jair Bolsonaro, mesmo que o ex-presidente permaneça inelegível. Disse que apoiará o nome que Bolsonaro escolher, embora deseje influenciar essa decisão. Para ele, a direita precisa caminhar para o centro para vencer, inclusive se o candidato for um familiar de Bolsonaro. “Um familiar pode ser viável se tiver um discurso mais ao centro. Se se isolar na direita, não será eleito”, argumentou. Mencionou também nomes como Caiado, Tarcísio, Zema e Teresa Cristina como possíveis candidatos com potencial de unir a direita.

O senador defendeu ainda uma anistia mais equilibrada aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, criticando o que chamou de “exageros” por parte do Supremo Tribunal Federal nas condenações. Para ele, é necessário “virar a página” e focar nos problemas reais da população, como segurança pública e geração de empregos.

A entrevista, conduzida por Igor Gadelha, revela o reposicionamento estratégico do centro-direita brasileira em busca de protagonismo e identidade própria, à medida que se distancia do governo federal, sem cair em oposição radical, e se articula para disputar o poder em 2026 com um discurso mais pragmático e moderado.

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