O impeachment de Lula deixa de ser um fantasma, é possibilidade concreta
O recado do Congresso e o risco real para Lula

A derrubada do decreto presidencial que mantinha a cobrança do IOF sobre investimentos no exterior, promovida ontem pela Congresso Nacional, foi muito mais do que uma derrota legislativa para o governo Lula. Foi uma demonstração crua e brutal de força. Um recado claro, dado por uma base parlamentar fisiológica, que não tem compromisso com um projeto de país, mas sim com os interesses dos lobistas, do sistema financeiro e dos especuladores: “quem manda somos nós”.
Sob a liderança de Hugo Motta e Davi Alcolumbre (União-AP), o Congresso Nacional mostrou que está disposto a peitar o governo sempre que este contrariar os interesses de seus patrocinadores ocultos — sejam bancos, fundos de investimento ou grandes corporações. E mais: os deputados sentiram o gosto do poder e podem não querer esperar até 2026 para se livrar de Lula.
A possibilidade de um processo de impeachment, até recentemente tratada como devaneio ou retórica alarmista, agora se desenha como uma ameaça palpável. Em um Parlamento dominado pelo centrão fisiológico, qualquer “bobagem” — uma frase mal colocada, uma escolha orçamentária impopular, uma nomeação incômoda — pode servir de pretexto para um processo de cassação presidencial.
O dilema de Lula
Lula sabe que está diante de um dilema clássico: se cede às chantagens e negocia tudo com o Congresso, termina o mandato esvaziado e irrelevante. Mas se parte para o confronto direto, corre o risco de ser atropelado por uma maioria parlamentar sedenta de vingança e poder. O impeachment seria o golpe final de um Congresso que já se comporta como chefe de governo e não como um dos poderes da Nação.
Historicamente, sabemos: o centrão não hesita. Foi assim com Collor. Foi assim com Dilma. Não hesitará com Lula se julgar conveniente — ainda mais com o bolsonarismo esperando sua oportunidade de voltar ao Planalto pela via indireta.
Como reagir?
Lula precisa, com urgência, recuperar a iniciativa política. Isso passa por três frentes:
- Combater o fisiologismo com articulação firme — não mais negociar cargos por silêncio, mas construir alianças estratégicas e públicas;
- Mobilizar a sociedade — fortalecer sua base social e sindical, que anda apática;
- Ocupar as redes e os meios de comunicação — não se pode disputar o futuro do país com ministros calados e um presidente ausente dos principais embates narrativos.
Não estamos mais diante de uma crise eventual, mas de um ponto de inflexão. O que está em jogo não é apenas o projeto de governo de Lula, mas a própria estabilidade institucional do país. Se o Congresso perceber que pode tudo, fará tudo. Até defenestrar um presidente legitimamente eleito para atender aos seus financiadores. O impeachment, portanto, deixou de ser um fantasma. Passou a ser possibilidade concreta — e com cheiro de conspiração.
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