O Gabinete do Ódio
Existe uma estrutura criminosa, montada com apoio do governo, chamada de "gabinete do ódio", para produzir e espalhar mensagens falsas.

Por Arnaldo Eugênio
Na quarta-feira (04/12), a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), em depoimento na CPI das Fake News, afirmou que os filhos do presidente Jair Bolsonaro comandam uma rede criminosa de ataques virtuais. A deputada exemplificou com os ataques virtuais sofridos por ela depois de ser destituída do cargo de líder do governo no Congresso, em outubro.
Esse período coincide com a crise entre Bolsonaro e o PSL pelo comando do fundo partidário, gerando um racha no partido, ocasião em que a parlamentar ficou do lado contrário ao presidente, que por sua vez mudou de partido pela oitava vezes – Bolsonaro pula de um partido para outro desde 1988.
Segundo a deputada existe uma estrutura criminosa, que foi montada com apoio do governo, chamada de "gabinete do ódio", que está sendo usada, deliberadamente, para produzir e espalhar mensagens falsas contra desafetos da família Bolsonaro. Para comprovar o fato, ela levou imagens, áudios e vídeos à CPI das Fake News.
O modus operandi descrito pela parlamentar é o seguinte: “Escolhe-se um alvo. Combina-se um ataque e há inclusive um calendário de quem ataca e quando. E, quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robôs. Por isso que, em questão de minutos, a gente tem uma informação espalhada para o Brasil inteiro”.
De acordo com a deputada, trata-se de uma estrutura criminosa que funciona de dentro do Palácio do Planalto – o “gabinete do ódio” - que apenas em duas contas do Twitter - a do presidente e a do deputado Eduardo Bolsonaro - há quase dois milhões de seguidores falsos - robôs usados para disseminar fake news – e que, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) é quem comanda a “milícia digital”.
Com tamanha riqueza de detalhes, a deputada Joice Hasselmann afirma que pelas conversas do grupo do “gabinete do ódio”, o deputado Eduardo Bolsonaro está amplamente envolvido e é um dos líderes desse grupo: a “milícia digital”.
Desse modo, os parlamentares governistas podem até negarem os ataques orquestrados pelo “gabinete do ódio”. Mas, o fato é que as acusações são gravíssimas, tipificando um estelionato eleitoral. Mesmo correndo o risco de ser incluído no grupo dos que o presidente Bolsonaro chamou de “alguns idiotas acreditaram”, a tentação é de aceitar as palavras da parlamentar. Afinal, ela foi forjada dentro do clã bolsonarista e colocada como líder do governo.
Caberá a CPI das Fake News apurar e responder algumas questões básicas: se cada disparo do robô custa, em média, R$ 20 mil, quem paga? De onde sai o dinheiro? Qual a estrutura organizacional do “gabinete do ódio” para disseminar notícias falsas? Por que Joice denuncia o “gabinete do ódio”, mas não crê em participação de Jair Bolsonaro se, segundo ela, a “milícia digital” funciona dentro do Palácio do Planalto?
Diante dos fatos relatados pela parlamentar seria ingenuidade acreditar que o presidente Bolsonaro, o principal beneficiado, não saiba sobre como agem diversas personagens nas redes sociais, disseminando campanhas difamatórias contra adversários políticos e espalhando fake news nas redes sociais, sobretudo em grupos fechados de redes sociais, como o Instagram e o Signal.
Partindo da tese de que a ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), está falando a verdade, teremos a oportunidade política de comprovar (ou não) a existência de uma “milícia digital” para espalhar ameaças e ataques à reputação dos críticos do governo Bolsonaro. E, principalmente, veremos o Congresso na frente do espelho da moral.
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