Eleições 2024

O fenômeno Pablo Marçal (e um pouquinho de Sílvio Mendes)

Os dois são heranças de Bolsonaro


O fenômeno Pablo Marçal (e um pouquinho de Sílvio Mendes)
Pablo Marçal e Sílvio Mendes

Por José Salan Barbosa Melo – engenheiro e ex Presidente da Eletrobras Piauí

A presença, o apoio e a desenvoltura que o candidato Pablo Marçal tem ganhado nesta campanha eleitoral precisam ser muito bem compreendidos. Tudo indica que voltamos a caminhar em direção ao abismo nesta marcha da insensatez. Tal qual nosso passado recente. Depois, quando a história nos cobrar um preço pela complacência e pela leniência,  não vamos sair culpando o povo por todos os erros que por ventura acontecerem, com aquela velha história de que povo não sabe votar.

A rápida ascensão desse candidato nas pesquisas de intenção de votos para a Prefeitura de São Paulo e o comportamento de importantes atores sociais e políticos como as elites econômicas/financeiras, a grande mídia e o Judiciário é o ponto mais importante e revelador deste propagado fenômeno.

Depois de tudo que já assistimos até aqui sobre o comportamento e o desempenho de Pablo Marçal, é de se perguntar: por que ele permanece livre, leve e solto participando deste certame como um cidadão qualquer?

Ora, Marçal se mostra como um ser destituído de qualquer civilidade, não obedece às normas e às leis que regulamentam o processo eleitoral, agride sistematicamente e com violência os demais candidatos. É um delinquente, com passagens pela prisão e com condenação judicial por participação numa quadrilha que invadia dados pessoais e o sistema dos bancos com o intuito de roubar as contas das pessoas. Os dirigentes de seu partido político e assessores têm fortes ligações com a maior facção criminosa do Brasil. Ou seja, Pablo Marçal não cumpre as regras da democracia e mais do que isso, trabalha para destruí-la.

Estas acusações e todas as evidências da proximidade do candidato com o mundo do crime, já seriam suficientes para inviabilizar a candidatura, tanto no aspecto legal quanto político, porém não é isso que acontece.

A Justiça sabe tudo isso e dispõe de elementos probatórios de criminalidades e irregularidades, mesmo assim o mantém no processo eleitoral. Todos os dias sua campanha comete crimes passíveis de cassação e a ele só são aplicadas pequenas penalidades às quais ele debocha e protela ao máximo o cumprimento. 

Mesmo sem obrigatoriedade, as emissoras de rádio e TV da grande mídia o convidam para todos os debates. Embora saibam de antemão que ele não tem o menor interesse em debater propostas ou programas para cidade de São Paulo, pois seus objetivos são outros. De saída, sua simples presença já é motivo derrubar a qualidade dos debates.

Para ser obrigatória sua participação nos debates, o PRTB, partido ao qual pertence deveria possuir no mínimo cinco deputados federais eleito em 2022 e não possui nenhum. Isso significa que ele não atende ao requisito mínimo para que tenha convite obrigatório para os debates eleitorais nas emissoras de rádio e TV.

E por que ele é mantido em todos esses debates?

  • Porque aumenta a audiência, pois muitos querem ver baixaria;
  • Porque reforça a imagem de que a política é feita por pessoas más, baixas e vis. A baixaria passa a ser problema de todos os candidatos e não de quem a provoca.
  • Porque atende a uma vontade da mídia que igualar e nivelar por baixo todos os candidatos.
  • Nunca esquecemos do dilema do jornal O Estado de São Paulo no segundo turno das eleições de 2018 em decidir entre Haddad e Bolsonaro. Uma dúvida cruel. E, por fim, para surpresa de ninguém, recomendou o voto em “Bolsonaro com moderação”.

O interessante de observar nas elites empresariais e econômicas brasileiras é que mesmo sabendo que uma opção política vai trazer graves prejuízos para o país, desde que seja para derrotar a esquerda, não interessam os meios ou os fins. 

Elas não se enganaram com Bolsonaro pois o conheciam muito bem e sabiam do ele era capaz.

Só não somos hoje um país mergulhado no caos político e na vigência de uma ditadura comandada por Bolsonaro, por muito pouco.

A situação poderia ser mais trágica ainda do que as 700 mil mortes da Covid. A Justiça e o próprio Legislativo não impediram no nascedouro que um delinquente, que ameaçou explodir o sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro, que clamava por uma guerra civil, que homenageou torturadores da ditadura, que tinha fortes vínculos com a milícia carioca e defendeu por muito tempo um golpe de Estado, um sujeito que ameaçou de estupro uma deputada diante das câmaras de televisão, caminhasse tranquilamente em direção à Presidência da República sem ser incomodado pela Justiça e pela grande mídia.

No caso atual, é a história se repetindo como uma grande farsa, como nos ensinou um antigo *filósofo que "a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."  Já vimos a tragédia.

Na realidade, neste caso nós temos duas faces de uma mesma moeda, onde a diferença de um para o outro é porque um é muito próximo das milícias do Rio de Janeiro e o outro com vínculos na maior facção do crime organizado de São Paulo.

Estes cidadãos e seus principais apoiadores se apresentam para o eleitorado como defensores da moral, da ética, da família e dos bons costumes.

A permanência e a continuidade de Pablo Marçal nesta eleição e nas próximas nos mostra a fragilidade de nossa democracia, incapaz de conter e interromper o vicejar de elementos que germinam em seu ventre com o objetivo de destruí-la. Esta tolerância e complacência não fazem bem para a democracia nem ao estado democrático de direito.

As massas populares não têm as informações que as instituições possuem, por isso não conseguem entender o que está por traz de um cidadão que diz combater o crime organizado, ser contra o tráfico de drogas, quando de fato, se apoia em ambos para conseguir fortalecer seus instrumentos de campanha e suas finanças pessoais.

De uma forma ou de outra, Pablo Marçal já ganhou muito nesta campanha eleitoral. Ganhou muitos seguidores e ganhou notoriedade. Ele já disse que não importa a forma, o que ele persegue é a audiência para seus cortes.

Ressalve-se em tudo isso algumas exceções e a principal delas, o Ministro Alexandre de Moraes que à frente do TSE não deixou que na campanha das eleições de 2022 prevalecesse o roubo e o uso de artifícios para dar a vitória para Jair Bolsonaro. Não fraquejou diante das fake News sobre urnas eletrônicas, sobre a denúncia da  existência de caixa preta no TSE para manipular a apuração das urnas e impediu que se consumasse o golpe do transporte de eleitores comandado pela Polícia Rodoviária Federal.

Sem outros apoios do Judiciário não impediu que Bolsonaro usasse a “máquina federal” para queimar cerca de 300 bilhões do orçamento da União em benefício de sua candidatura.

Aqui em Teresina, o candidato Silvio Mendes não gosta de ser cobrado como sendo aliado de Bolsonaro. Por si só, sua ligação com Ciro Nogueira e o nível de envolvimento de Ciro com Bolsonaro dispensaria qualquer explicação, mas não vi em nenhum momento o ex-prefeito e médico Silvio Mendes se pronunciar quando Bolsonaro fazia uma enorme pressão pelo fim das as medidas protetivas contra a Covid 19, ao contrário, chegou inclusive a dar aval às loucuras de Bolsonaro . Também não vi qualquer pronunciamento do ex prefeito contra a invasão dos prédios dos Três Poderes em Brasília e a tentativa de golpe de Estado de Bolsonaro. Será se por fidelidade ou medo de Ciro Nogueira?

O Estado do Piauí e a cidade de Teresina se destacaram nacionalmente pelo desempenho durante a epidemia da Covid 19 porque o então Prefeito Firmino Filho, que não era submisso a Bolsonaro, juntamente com o Governador Wellington Dias deram as mãos e fizeram uma forte aliança no combate ao vírus. Não fosse este comportamento republicano e humanista dos dois gestores públicos nossa situação teria sido outra completamente diferente.

*Karl Marx no texto “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte” (1852)

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