Hugo Motta articula perdão a vândalos e prepara terreno para anistiar Bolsonaro
Atitude amplia a crise com o governo Lula e abre caminho para possível benefício a Bolsonaro

Um novo foco de tensão entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), começa a tomar forma nos bastidores de Brasília. Segundo informações publicadas pela coluna da jornalista Bela Megale, no jornal O Globo, Motta articula, de forma reservada, a votação de um projeto de anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 — texto que, de acordo com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), vem sendo costurado silenciosamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Sóstenes declarou que Hugo Motta se comprometeu a pautar o projeto na Câmara. Embora a proposta, formalmente, não inclua qualquer benefício direto a Bolsonaro — cujo julgamento por suposta participação na tentativa de golpe ainda tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) — o movimento é visto dentro e fora do Congresso como um passo inicial de um roteiro que pode, no futuro próximo, beneficiar diretamente o ex-presidente. Na prática, o avanço da anistia aos envolvidos nos ataques às instituições abre uma trilha política que favorece as chances de uma anistia mais ampla, incluindo Bolsonaro.
No Palácio do Planalto, a movimentação é interpretada como uma escalada na crise institucional, especialmente por ocorrer semanas após a derrubada, pela Câmara, do decreto presidencial que elevava a alíquota do IOF. A reação do governo foi imediata: “Uma atitude como essa será vista como uma declaração de guerra”, afirmou um ministro próximo a Lula, sob condição de anonimato.
A leitura no governo é de que a pauta da anistia representa não apenas uma afronta à estabilidade democrática, mas um gesto calculado de desestabilização institucional. A Advocacia-Geral da União (AGU) já judicializou a decisão sobre o IOF, e agora o Planalto se vê diante de um novo embate, desta vez com implicações simbólicas e jurídicas ainda mais profundas.
Apesar da tensão crescente, setores do governo tentam preservar canais de diálogo com Hugo Motta. Nesta quarta-feira (2), a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), publicou nas redes sociais um reconhecimento à atuação do Congresso na aprovação da Medida Provisória que libera até R$ 15 bilhões do Fundo Social do pré-sal para habitação popular e autoriza leilões de excedentes de óleo e gás.
O gesto de Hoffmann foi lido como uma tentativa de acalmar os ânimos e responder às queixas de Motta, que vinha demonstrando incômodo com o que considera uma falta de reconhecimento do Planalto às pautas aprovadas pelo Congresso — muitas das quais, na avaliação do deputado, contribuem para fortalecer o governo Lula.
Ainda assim, nos bastidores, a avaliação é de que Hugo Motta atua estrategicamente para abrir caminho à reabilitação política de Jair Bolsonaro, construindo, por etapas, uma anistia que começa pelos executores do 8 de janeiro, mas que pode culminar na absolvição do líder do bolsonarismo.
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