Mauro Cid e Braga Netto se enfrentam em acareação sobre trama golpista
Tenente-coronel acusa o general da reserva de dar dinheiro para financiar o assassinato de Moraes, que conduzirá a audiência de confronto de versões

O tenente-coronel Mauro Cid e o general da reserva Walter Braga Netto, que está preso preventivamente, ficarão frente a frente nesta terça-feira (24), em Brasília, na primeira acareação da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Ambos são réus e apontados como integrantes do “núcleo central” da articulação golpista. Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal e confirmou a existência do plano liderado pelo ex-presidente. Já Braga Netto, que foi ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, nega as acusações.
A acareação, solicitada pela defesa de Braga Netto ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), será realizada às 10h na sede da Corte. O procedimento visa esclarecer contradições entre os depoimentos e poderá ser acompanhado pelas defesas dos demais réus. A audiência não será aberta à imprensa nem terá transmissão ao vivo.
Plano para matar Moraes
O pedido de acareação foi motivado por duas graves acusações feitas por Mauro Cid em sua delação. A primeira é a suposta participação de Braga Netto em uma reunião em sua casa, em novembro de 2022, onde teria sido discutido o plano chamado “Punhal Verde e Amarelo” — que previa o assassinato de autoridades, entre elas o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, para impedir a posse e manter Bolsonaro no poder.
A segunda acusação é de que Braga Netto teria entregue a Cid uma caixa de vinho contendo dinheiro vivo, destinado a financiar ações golpistas, incluindo um plano para prender e matar o ministro Alexandre de Moraes.
“Deixei [a caixa com o dinheiro] no batente da minha mesa, para ninguém ver. Me foi entregue; o local exato não me lembro, se foi na garagem ou outro lugar. Mas me marcou porque deixei do lado do meu pé, para ninguém mexer”, disse Cid em depoimento ao STF.
Braga Netto nega as acusações. Afirma que nunca entregou dinheiro a Cid e que apenas o orientou a procurar a tesouraria do PL quando o militar lhe pediu recursos. “Morreu o assunto. Eu não tinha contato com empresários, então não pedi dinheiro a ninguém nem entreguei dinheiro algum ao Cid”, declarou o general.
Preso desde dezembro de 2024, acusado de tentar obstruir as investigações, Braga Netto será escoltado até o STF com uso de tornozeleira eletrônica. Esta será sua primeira saída do presídio para um depoimento presencial.
A acareação ocorre na fase final de diligências do processo, após os interrogatórios realizados nos dias 9 e 10 de junho. Após a audiência, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e as defesas apresentarão as alegações finais. O julgamento de mérito será feito pela Primeira Turma do STF, presidida pelo ministro Cristiano Zanin.
Segunda acareação: Anderson Torres x Freire Gomes
Também nesta terça-feira, o STF realiza uma segunda acareação, desta vez entre o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que participa do processo como testemunha.
Freire Gomes declarou que Torres participou de reuniões com Bolsonaro e chefes militares no Palácio da Alvorada, onde teria apresentado fundamentos jurídicos para minutas golpistas em circulação. “Participou de algumas reuniões com a presença do então ministro da Justiça Anderson Torres; nas reuniões, Torres explanava o suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas”, afirmou o general em depoimento.
A defesa de Torres nega envolvimento e diz que vai apresentar registros de entrada e saída no Alvorada para contestar a versão do general. Em novo depoimento, Freire Gomes disse lembrar da presença de Torres em “uma ou duas reuniões” e afirmou que o ex-ministro “nunca interferiu, nunca me procurou particularmente e, mesmo nas reuniões, não opinava sobre o tema, que eu me lembre”.
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