Política

Manifesto de banqueiros contra o governo federal; veja a íntegra

Globo vazou o manifesto e Guedes diz que Febraban ataca governo

  • segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Foto: Carta CapitalPaulo Skaf e Paulo Guedes
Paulo Skaf e Paulo Guedes

O manifesto empresarial sobre a crise política no país, que seria publicado nesta terça-feira (31) por entidades setoriais do setor privado articuladas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), foi adiado por Paulo Skaf, presidente de Fiesp.

A notícia provocou incômodo entre empresários e industriais. A iniciativa não foi comunicada oficialmente aos cerca de 200 signatários do documento. Todos ficaram sabendo do recuo pela imprensa, o que causou mal-estar no setor privado.

O documento, apesar do adiamento, foi vazado pelo Globo (veja abaixo).

O ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou, nesta segunda-feira (30), ter sido informado de que o manifesto estaria suspenso e que “alguém” da Febraban teria transformado o documento em um ataque ao governo Jair Bolsonaro.

Na última semana, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil ameaçaram não deixar a Febraban, com a justificativa de que o manifesto tinha conotação política. A Fiesp informou que estendeu o prazo de divulgação para ampliar o apoio ao manifesto.

“A informação que tenho é que havia um manifesto em defesa da democracia, que não haveria problema nenhum, e que alguém na Febraban teria mudado isso para, em vez de ser uma defesa da democracia, seria um ataque ao governo. Aí a própria Fiesp teria dito ‘então não vou fazer esse manifesto’. E o manifesto está até suspenso por causa disso. Não estão chegando a um acordo”, disse o ministro.

Veja a íntegra do manifesto:

A praça é dos três poderes

A praça dos três poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.

Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.

Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.

As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.

Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira.

Bolsonaro implode elites econômico-financeiras

Comentário de Helena Chagas, jornalista, no Brasil 247

Nunca antes neste país um manifesto moderado de três parágrafos provocou tanta confusão entre as elites do capital nacional. Patrocinado pelo até ontem insuspeito bolsonarista Paulo Skaf, presidente da Fiesp, o documento foi usado pelo Planalto para confrontar a poderosa Febraban, usando os bancos oficiais que um dia o governo Bolsonaro jurou que seriam autônomos. 

O resultado da lambança deixou todos os personagens em má situação, e a decisão de adiar a divulgação do manifesto, anunciada hoje pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, é mais ou menos como tirar o sofá da sala.   

Só não vê quem não quer que, junto com boa parte do PIB, o mercado desembarcou do governo Bolsonaro. A assinatura da sempre comportada Febraban no documento - que não ia sequer tocar no nome do presidente e ia jogar na conta dos três poderes a crise institucional - não chega a ser uma surpresa. Expoentes importantes do setor financeiro, como Pedro Moreira Salles, Roberto Setubal e José Olympio Pereira já haviam assinado como pessoa física, há semanas, manifesto muito mais forte com críticas ao governo e às investidas antidemocráticas de Jair Bolsonaro. 

A novidade agora é que o presidente da Caixa, com apoio do do Banco do Brasil e do Planalto, resolveu rachar a Febraban com a ameaça de sair da entidade, numa ruptura inédita. Aos olhos do mercado, porém, a Federação dos Bancos perde menos do que o governo. Com esse gesto, ficou claro para os últimos recalcitrantes que ainda acreditavam que o liberalismo desse governo é de araque. E que Bolsonaro está e continuará interferindo politicamente na Caixa e no Banco do Brasil, sim.   

Também a Fiesp de Paulo Skaf ficou numa saia justa. Há versões diversas sobre as intenções de Paulo Skaf com o documento, que vão da contrariedade por não ser o candidato de Bolsonaro a governador de SP em 2022 à possibilidade de ter feito o documento em tom meio anódino para restabelecer uma ponte do empresariado com o Planalto. 

O fato concreto, seja qual for a narrativa, é que Skaf perdeu o controle do movimento e ficou com o mico na mão ao adiar a divulgação da carta. Muita gente que assinou não está gostando nada disso - e é possível que, nas próximas horas, saia um manifesto do B. O bolsonarismo conseguiu implodir até as elites econômico-financeiras do país.

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