Política

Lula não pode se curvar à chantagem da classe dominante predatória

Que tipo de política econômica Lula pretende aplicar no Brasil a partir de 2023?

  • terça-feira, 6 de abril de 2021

Foto: Redes SociaisLula
Lula

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook

Que tipo de política econômica Lula pretende aplicar no Brasil a partir de 2023?

Ele tem sido - corretamente, a meu ver - bem pouco específico. Afinal, nem mesmo assumiu a candidatura, afirmando que o momento é de priorizar o enfrentamento à crise humanitária causada pela coligação Bolsonaro-vírus.

Mas as poucas sinalizações que dá são pouco animadoras. Lula e o PT, como bem anotou Roberto Requião em texto recente, continuam falando de "responsabilidade fiscal" e "equilíbrio macroeconômico".

Nas entrevistas, uma preocupação principal do ex-presidente é acalmar "o mercado", com declarações feitas sob medida para agradá-lo.

Mas esse caminho não tem como dar certo.

A opção pelo crescimento baseado na expansão do consumo, que Lula trilhou nos seus dois mandatos, está impedida, seja pelas mudanças no cenário internacional, seja pela acelerada deterioração da economia e do tecido social no Brasil nos últimos anos.

A aposta de Dilma num crescimento puxado pelo investimento privado - é bem verdade que financiado pelo Estado, por meio de crédito subsidiado e desonerações - fracassou de forma retumbante.

Nos Estados Unidos, Biden - que nunca foi nem remotamente progressista - entendeu que era hora de romper com o pretenso "consenso" compelido pelo neoliberalismo. Lançou um programa de maciço investimento público. E está avançando para cobrar mais impostos dos mais ricos.

Os EUA estão até, vejam só, propondo um patamar mínimo mundial de taxação dos lucros, para impedir a fuga de capitais.

No Brasil, a resistência a um programa assim é enorme. Paulo Guedes continua sendo o herói da nossa burguesia. O esforço é para impedir que se cogite fazer por aqui algo parecido com o que Biden quer fazer lá. O hilário editorial da Folha explicando que "o que é bom para os Estados Unidos não é bom para o Brasil" serve de exemplo.

Mas não há como resgatar o Brasil do abismo em que caímos sem enfrentar essa gente.

Lula é o maior líder político do país. Mostrou ser o único capaz de resgatar a esperança do povo brasileiro. Tem habilidade política e capacidade de comunicação para dar e vender.

Tenho certeza de que ele quer voltar à presidência não por vaidade ou por revanche pessoal, mas porque deseja dar rumo ao país. Lula, afinal, é daqueles que veem a si mesmos como personagens da História.

Para isso, não pode se curvar à chantagem da nossa classe dominante predatória. Seu papel é comandar a construção de uma ampla frente de oposição à política econômica concentradora de riqueza e produtora de subordinação e de miséria.

A mudança de rumo nos Estados Unidos lhe dá, aliás, uma magnífica janela de oportunidade para pautar o debate econômico em novos termos.

Afinal, é o que ele terá que fazer, caso volte ao governo. Sem mudanças importantes na política tributária e sem forte investimento público, qualquer presidente estará condenado a servir de gerente dos escombros do Brasil.

E a gente sabe: não existe "estelionato eleitoral" contra a classe dominante. Ou o apoio a medidas que enfrentam seus interesses se constrói desde o princípio ou elas não se tornam viáveis.

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