Fugiu e zombou: "Sou intocável na Itália. Pode colocar Interpol atrás de mim", disse Zambelli
PGR pede prisão e bloqueio de bens

O Brasil amanheceu nesta terça-feira (3) com a notícia de que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o país e se encontra na Europa, onde pretende fixar residência na Itália, país do qual possui cidadania. A fuga ocorre dias após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condená-la, por unanimidade, a dez anos de prisão em regime inicialmente fechado, pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em reação à evasão, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STF a decretação da prisão preventiva da parlamentar, bem como o bloqueio de seus bens e a inclusão de seu nome na lista de difusão vermelha da Interpol, mecanismo que facilita a captura internacional de foragidos.
A PGR justificou o pedido afirmando não se tratar de antecipação da pena, mas de medida cautelar para garantir a aplicação da lei penal, além de ter solicitado a suspensão do passaporte da parlamentar.
Em entrevista à Rádio Auriverde, Zambelli confirmou que está fora do Brasil "há alguns dias" e que sua intenção é viver na Europa. Inicialmente, revelou estar em Portugal, mas indicou que deve se estabelecer na Itália, valendo-se de sua cidadania italiana.
A deputada voltou a afirmar que é vítima de perseguição política, alegando que foi condenada por opiniões políticas e por ser mulher e conservadora. Zambelli comparou sua situação à de Eduardo Bolsonaro, que também tem articulado ações internacionais para denunciar ministros do STF, e afirmou que pretende denunciar no exterior o que chamou de “abusos” de magistrados brasileiros, citando nominalmente Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes.
“É daqui que vão nascer novas ações e eu vou denunciar, sim, tudo o que está acontecendo”, disse, acusando ministros do STF de manterem investimentos no exterior para “não viverem como reis nas ruas do Brasil”.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), manifestou apoio à colega, afirmando nas redes sociais que Zambelli foi condenada “por ser mulher e de direita”. Segundo ele, a tramitação do processo no STF foi “uma das mais rápidas da história” e teria ignorado o direito à ampla defesa. Cavalcante criticou o que chamou de "celeridade seletiva" do Judiciário.
Por outro lado, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou que solicitará à Interpol a emissão de um alerta vermelho para localizar, prender e extraditar Zambelli. Ele criticou a fuga da parlamentar, classificando-a como um ato de covardia, e alertou para o risco de que Jair Bolsonaro adote a mesma estratégia.
"Essa turma é um leão para atacar a democracia e covarde na hora de responder por seus crimes. Não podemos permitir uma fuga de uma eventual condenação por golpe de Estado", declarou.
A condenação de Zambelli inclui não apenas a invasão do sistema do CNJ, mas também a participação na organização de uma rede de fake news e a perseguição armada a um opositor político em via pública, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, destacou em seu voto o “absurdo” da atuação de Zambelli, classificando sua conduta como uma deturpação dos deveres institucionais e um ataque à credibilidade das instituições democráticas.
Além da pena de dez anos de prisão, Zambelli foi condenada à perda do mandato, inelegibilidade com base na Lei da Ficha Limpa e ao pagamento de R$ 2 milhões em indenizações por danos morais e coletivos. O hacker Walter Delgatti, também condenado no mesmo processo, recebeu pena de 8 anos e 3 meses de prisão.
Apesar da gravidade da condenação, Zambelli conseguiu deixar o Brasil sem restrições legais, após ter seu passaporte devolvido. A parlamentar cruzou a fronteira para a Argentina, de onde embarcou para os Estados Unidos. Posteriormente, revelou planos de seguir para a Itália.
Em entrevista à CNN Brasil, Zambelli afirmou que “como cidadã italiana, sou intocável na Itália”, minimizando as chances de extradição. “Pode colocar Interpol atrás de mim, eles não me tiram da Itália”, desafiou, em tom de provocação.
O jurista Marcelo Uchôa condenou a fuga e apontou falhas institucionais: “A gangue que governou o Brasil e tentou um golpe difundiu bem a falsa narrativa de que está sendo perseguida por uma ditadura. De fora, articulará o revés. A realidade requer atenção dobrada!”.
Ele também criticou o Partido Liberal (PL), afirmando que a legenda deveria ter perdido o registro partidário após pedir, sem fundamentos, a anulação do resultado presidencial de 2022.
O episódio da fuga de Zambelli também repercutiu fora do ambiente político. O cantor Oruam, que se envolveu em uma confusão com policiais ao dançar em cima de um ônibus na frente da Penitenciária de Bangu, ironizou a situação da deputada.
“Acha que eu vou fugir pra Europa, igual a Carla Zambelli?”, disse o artista, em tom de deboche, ao comentar o episódio nas redes sociais.
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