Fuga de Zambelli expõe racha e disputa por doações de Pix no clã Bolsonaro
Zambelli foge do país após condenações e rompe com Bolsonaro, em disputa por doações via Pix

A fuga da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a mais de 15 anos de prisão por envolvimento na invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por perseguição armada, provocou silêncio entre os principais nomes da família Bolsonaro. A ausência de manifestações públicas não se deve apenas ao desgaste emocional e político entre Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também a uma disputa velada por recursos arrecadados entre suas bases de apoio.
Antes de deixar o país, Zambelli concedeu entrevista na qual revelou mágoa profunda com Bolsonaro. “Eu já perdoei. Ele nem pediu desculpas, nem nada, porque acha que está certo. Mas é uma ferida muito grande”, afirmou a parlamentar, que disse ter entrado em depressão após os ataques recebidos do ex-presidente.
Apesar da tensão, Zambelli tentou reatar os laços com o clã. Ao anunciar sua fuga na última terça-feira (3), afirmou que pretende "ombrear" com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), na propagação da narrativa de "perseguição política" no exterior. Eduardo, que se encontra nos Estados Unidos, ignorou o aceno. O mesmo silêncio veio de seus irmãos, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Nos bastidores, o principal motivo do distanciamento está relacionado ao controle da máquina de arrecadação digital via Pix, hoje uma das principais ferramentas políticas do bolsonarismo. Aliados próximos relatam que Zambelli ficou contrariada ao ver Bolsonaro lançar uma nova campanha de arrecadação poucos dias antes de sua própria vaquinha, voltada a custear a fuga e o pagamento das multas judiciais que enfrenta, estimadas em R$ 3,5 milhões.
Enquanto o ex-presidente já arrecadou R$ 17 milhões em doações desde 2023, a campanha de Zambelli, lançada em 19 de maio, arrecadou R$ 295 mil em seus primeiros dias. “Aquela vaquinha que lancei ontem já deu R$ 285 mil até à noite... Mas, são R$ 3,5 milhões de multa. Eu não tenho a mínima condição de pagar”, disse a deputada, em entrevista.
Para impulsionar os pedidos de doação e evitar bloqueios nas redes, a deputada transferiu oficialmente a titularidade de suas plataformas digitais à mãe, Rita Zambelli, e ao filho, João Zambelli. Ambos foram anunciados como pré-candidatos: Rita à Câmara Federal em 2026 e João à vereança em São Paulo, em 2028.
"Ela, inclusive, é a minha pré-candidata a deputada federal no próximo ano, justamente para dar continuidade a essa luta que é de toda a nossa família", afirmou Zambelli. "Meu filho, João Zambelli, também dará seguimento a esse legado... caso, de fato, eu venha a ser calada pelo sistema", completou.
A estratégia marca um novo capítulo na trajetória política de Zambelli, agora em exílio autoimposto, com apoio familiar e busca por capital político entre os mesmos eleitores que, nos últimos anos, formaram a base mais radical do bolsonarismo. Enquanto isso, o silêncio do clã Bolsonaro expõe não apenas distanciamentos pessoais, mas uma disputa direta por influência e financiamento dentro do campo da extrema-direita brasileira.
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